terça-feira, 22 de setembro de 2015



22 de setembro de 2015 | N° 18302 
LUÍS AUGUSTO FISCHER

VOLTO SEMANA QUE VEM


Em algum tempo de nossa vida, chega o momento de viver a perda. O avô, um parente, um vizinho distante, ou alguém da nossa idade mesmo – pessoas morrem. E nem precisa muito freudismo para saber que é preciso fazer o luto das mortes para poder continuar vivendo com dignidade e, na boa hipótese, alguma alegria.

Fazer o luto: deixar aquela morte ocupar como uma cheia nosso coração e nossa vida, e então começar a emergir, percebendo, a preço tão mais alto quanto maior for nossa proximidade com o falecido, que nós não morremos junto com ele, e que vale a pena manter sua memória forte enquanto recompomos nossa sobrevida. (Quando perdi meu irmão, sete anos mais novo que eu, formulei para mim mesmo a frase que me acompanha até aqui e pelo jeito vai comigo para sempre: a vida é sempre o que sobrou.)

Assim é com os indivíduos, e mais ou menos assim acontece com agrupamentos humanos, as famílias ou as culturas. Precisamos deixar a perda acontecer plenamente, sem escondê-la nem escapar dela, porque a hora da verdade se imporá.

Essas reflexões aparentadas com a banalidade me ocorrem para sugerir ao prezado leitor a leitura de um luto, escrito em uma linguagem de grande qualidade e gentileza existencial, sempre ao lado da verdade necessária: o livro de memórias Volto Semana que Vem, de Maria Regina Pilla (Cosac Naify).

Livro pequeno, uma joia recente que se deve conhecer aos goles, na mesma levada discreta com que foi escrito. São retalhos da vida em Porto Alegre antes de 1970, com infância num idílico Partenon e juventude no fervilhante curso de Jornalismo na UFRGS, mais a militância política que conduz à prisão na Argentina e exílio na França. Vinte e dois anos depois da saída, a volta à terra natal, e outros 20 para gerar esse belo, sensível, essencial livro.

Nenhum comentário: