30 de setembro de 2015 | N° 18310
MOISÉS MENDES
Cadeira na calçada
Uma cena de primavera que sempre imagino. Num sábado de manhã, colocar uma mesinha com três ou quatro cadeiras na frente de casa e ficar esperando que alguém passe e queira sentar. Conversaríamos, em dupla ou em grupo de quatro ou cinco pessoas, sobre qualquer coisa. Talvez com alguém em pé, dando pitaco na volta. E uma corruíra cantando na pitangueira. Gente que talvez eu nunca tenha visto antes, outros que algum dia vi passar, mas não sei quem são, ou vizinhos que só vejo abrindo o portão.
Colocaria uma placa ao lado da mesa, com o aviso: sente-se e proseie, o tema é livre. Diferente de uma mesa de bar, porque tudo seria casual. No cara a cara, sem ataques encobertos por máscaras e falsas identidades do Facebook ou pelas notas desaforadas postas ao pé de textos na internet. Sem valentes que ficam atrás das saias da vida virtual.
Ninguém chamaria ninguém de comunista, de petralha ou de coxinha. Falaríamos de futebol, principalmente do centroavante, essa figura que o Grêmio conseguiu desinventar e não colocar nada em seu lugar. Eu diria que ninguém foi e nunca será maior do que Alcindo, o Bugre Xucro. E se daria o debate.
Falaríamos de política e do programa do PSDB na segunda-feira na TV, quando Aécio disse: “Somos oposição, sim, mas somos oposição a esse governo; não somos e nem jamais seremos oposição ao Brasil”.
Em julho, Aécio havia dito em uma entrevista à Rádio Itatiaia, de Belo Horizonte: “O que temos consciência clara é que nós, do PSDB, em primeiro lugar, somos o principal partido de oposição ao Brasil”.
Ficaríamos uma hora discutindo o esforço de Aécio para se corrigir, três meses depois. E falaría- mos do futuro depoimento de Lula à Polícia Federal, como testemunha da Lava-Jato. Há mais de 10 anos tem gente esperando para depor na Justiça sobre o mensalão tucano. Talvez nunca venham a ser chamados. Por que o Lula furou a fila?
Em alguns momentos, os ânimos até poderiam ficar exaltados, mas apenas por segundos. Temas leves e pesados seriam alternados. Falaríamos até da descoberta de água em Marte.
E então alguém diria: o que seria de Marte se paulistas sedentos decidissem explorá-lo? Eu até imaginaria uma mesa em alguma calçada de Marte. Desde que os tucanos não chegassem antes e transformassem Marte em uma Cantareira. Marte no volume morto.
Nenhum comentário:
Postar um comentário