sexta-feira, 18 de setembro de 2015


Jaime Cimenti

Um sonho rio-grandense


Pois eu tive um sonho. Acho que ainda tenho o direito de sonhar, como todos nós. Acho que posso pedir para não me tirarem esse direito, acho que ainda dá tempo, sempre dá. Tive um sonho tri rio-grandense barbaridade. Sonhei que estávamos todos lá, na festa gigante, bem-representados, os de Iraí, Torres, Chuí, Itaqui, Livramento, Caxias, Bento, Novo Hamburgo, Porto Alegre, Dom Feliciano e dos outros 487 municípios do nosso Rio Grande. 

Na festa tinha churrasco de carnes de todos os tipos, linguiças, galetos, peixes, queijos, até churras vegano havia. Tinha uva, moranguinho, maçã, pêssego, laranja, banana, doces de Pelotas, chucrute, saladas, ambrosia, arroz de leite, maionese, polenta, carreteiro, quibebe, mocotó, bacalhau, quibe, paella, charque, dobradinha, tainha, sushi, gefilte-fish, frango xadrez, massas, apfelstrudel, feijoada, fervido, feijão mexido, cerveja, cachaça, vinho, refri e até água, tinha comidas e bebidas para todos os gostos, tinha de tudo, que nem lembro mais.

No meu sonho, ninguém falava em chimangos e maragatos, gremistas e colorados e em outras divisões, especialmente nas famosas divergências políticas, aquelas de sempre, que em vez de elegerem governadores e prefeitos, os deselegem solenemente. Por uns momentos oníricos estávamos abraçados, unidos, pensando nos interesses comuns do Estado e no seu futuro, nos protegendo do mau tempo, cobertos por nossa bandeira, que tinha o amarelo, o verde e o vermelho de sempre e um azul como novidade, para dar um toque holístico de união.

No meio daquela tertúlia, daquele fandango, daquela festa macanuda, daquele kerb e daquela comunhão, onde só rolava coisa boa, ninguém pensava em Metade Sul ou Norte, pedaços de Estado ao Centro, Leste, Oeste, Sudeste ou Nordeste, trechos de Litoral para cima ou para baixo. No sonho, o Rio Grande era um só, irmãos buscando o melhor para todos, como uma família que se une para vencer as dificuldades e não permitir que lutas internas a enfraqueçam. No sonho, cada um pensava no que poderia fazer pelo Rio Grande e não o que o Rio Grande poderia fazer por ele.

No sonho, os rio-grandenses falavam em novo pacto federativo, mais justo, mais equitativo, com mais poder, verbas e autonomia para estados e municípios, onde realmente vivem, trabalham, pagam impostos e sonham os cidadãos, seus filhos e netos. No sonho, os conterrâneos e nossas empresas não sonhavam em botar o pé na estrada para realizar desejos em outras paragens. Sonhavam em sonhar e realizar por aqui, nos pagos, que, afinal, no dizer do poeta Atahualpa Yupanki, "La Pampa es el cielo al revés".

Eu sei, vocês podem até dizer que o sonho acabou, John, que devo procurá-lo em outra padaria, em Montevidéu, Miami ou no Nordeste brasileiro. Vocês podem dizer que, como na letra de Imagine, canção do Lennon, eu seja um sonhador. Pode ser. Tomara que eu não seja o único. Tomara que você se junte a nós. Como disse o outro, a vida é sonho. E os sonhos, sonhos são.

A propósito...

Na Assembleia Legislativa, em 2006, lançou-se a construção de um grande pacto em favor dos interesses do Rio Grande do Sul envolvendo órgãos governamentais e entes da sociedade civil organizada. Campanhas como o Rio Grande do Sim, da ADVB, e outras iniciativas importantes aconteceram depois, no sentido de buscar soluções para nossos problemas. Neste momento, mais do que nunca, é fundamental pensar nessas iniciativas, e em outras, e é preciso cumprimentar nossos três senadores pelo esforço unido que estão fazendo pelo Estado. O Rio Grande agradece. O Rio Grande precisa de senadores do Rio Grande do Sul, de uma federação verdadeira e que não sejam apenas senadores da República. 
Jaime Cimenti

Nenhum comentário: