16 de setembro de 2015 | N° 18296
MARTHA MEDEIROS
Rock at home
Onde você está agora? No quarto, no escritório, no ônibus? Aliás, que horas são agora? É de manhã, é de tarde, você está entediado, aborrecido, feliz da vida?
Difícil estar feliz da vida diante da situação desalentadora do país e do nosso Estado, mas há que se buscar pequenos prazeres para seguir adiante, e é o que estou fazendo. Neste exato instante (você já pensou sobre a distância que separa o momento em que escrevo e o momento em que você me lê?) estou tomando um cálice de vinho (é noite!) e escuto o novo CD de uma banda que me reconecta com o espírito que eu tinha aos 16 anos e que permanecerá comigo pra lá dos 90 – velhinhas também escutam rock.
O disco: 1 Hopeful Rd, da banda californiana Vintage Trouble, que surgiu em 2010 resgatando um rhythm’n’blues que anda meio esquecido nesta era de música eletrônica, bate-estaca, tum-tum-tum. Já falei dessa banda em sites, blogs, postagens no Face, agora falo no jornal porque sei que roqueiros clássicos sobrevivem por aí, feito dinossauros que se negam a entrar em extinção.
A primeira faixa do disco é vigorosa demais pro meu gosto, mas da segunda faixa em diante é um passeio na estrada. Não sou colunista de música, especialista em nada, então escute por sua conta e risco, mas algo me diz que você irá gostar de pegar essa carona comigo.
Por enquanto, a banda ainda toca em bares mundo afora, em pubs, espaços pequenos (eu assisti ao Barão Vermelho pela primeira vez numa boate que me permitia estar a cinco metros de Cazuza, no mesmo plano, sem distância entre palco e plateia), mas Vintage Trouble já está abrindo shows para o The Who e o AC/DC. Não tenho dúvida de que em breve brilhará sozinha em grandes palcos. Se ela estivesse no Rock in Rio, que começa na próxima sexta-feira, eu marcaria presença na fila do gargarejo, extasiada.
Ao mesmo tempo que divulgo e enalteço a banda, sei que posso estar dando um tiro no pé e eles nunca passarem de azarões, virarem aqueles que quase chegaram lá, quase estouraram, quase lançaram hits. Mas precisamos mesmo de ídolos que chegaram lá? Não basta chegarem a nós?
Ainda estou aqui. Ainda tomando um vinho. Se você está trabalhando e é de dia, me compreenda e relativize, a noite logo chegará pra você, eu ainda estou no ontem – e o rock, neste minuto, toma conta do recinto.
Às vésperas de mais uma edição do maior festival do gênero, me rendo à nostalgia. Estive no primeiro Rock in Rio, em 1985, e continuo até hoje fiel a esse som que perdeu o seu caráter transgressor, mas que ainda exerce sobre mim um efeito que o jazz, a bossa e o samba, por mais sensacionais que sejam, não atingem. O efeito de me fazer sentir viva, a despeito das notícias da primeira página. Tim-tim.
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