sexta-feira, 25 de setembro de 2015


25 de setembro de 2015 | N° 18305 
MARCOS PIANGERS

Crianças extraordinárias

Em toda apresentação musical das minhas filhas, eu me lembro daquela piada: o sujeito está vendo aquela criança no palco, tocando violino desafinadamente. Do seu lado, na plateia, está um senhor chorando emocionado. Meio sem jeito, o sujeito pergunta: “Vejo que está chorando desde o início da apresentação. O senhor é pai dessa criança que está tocando violino?”. E o senhor responde: “Não! Sou músico!”.

Posso falar, já que tenho mais de 10 anos de experiência em apresentações escolares. Em suma, são dezenas de crianças andando de um lado para o outro, enquanto a professora tenta puxar uma dancinha – e acaba dançando sozinha. É, na verdade, uma apresentação da professora, em seu esforço hercúleo de fazer as crianças dançarem, enquanto seu filho de dois anos come meleca do próprio nariz.

Depois melhora. Minha filha mais velha fez uma apresentação musical anos atrás. Tudo corria conforme o planejado: as crianças todas desafinadas, o som apitando uma microfonia irritante, uma pobre professora tentando organizar as coisas na frente do palco. Até que uma pequena-prodígio entrou no palco. Disseram que toca piano desde os três anos, o pai é PhD em alguma coisa e a mãe é regente da orquestra tal.

Tocou um Franz Liszt que no final era todo mundo fungando e limpando as lágrimas com a manga. Chorei de deslumbramento com a beleza da música, e de pena da minha pequena, que desafina sempre que tenta tocar Asa Branca. Mas feliz por existirem crianças geniais. E feliz por saber que todas as crianças, na verdade, são extraordinárias.

Pude ver, então, a graciosidade com que uma criança canta uma letra de música errado. Como erram a coreografia de forma graciosa. Como tentam imitar os passos da professora em cada apresentação. Como estão milimetricamente desarrumadas. Como se apresentam de forma desastrada porque estão sempre olhando pros pais na plateia. Cheias de amor nos olhos.

Tivemos a sorte de ter filhos incrivelmente inteligentes, talentosos, eloquentes, carinhosos. A sorte de ter filhos brilhantes, crianças absolutamente fora do comum. Crianças extraordinárias. Exatamente como qualquer outra criança com a mesma idade delas.

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