11 de setembro de 2015 | N° 18291
MARCOS PIANGERS
Por que gosto de crianças
As pessoas me perguntam por que gosto tanto de crianças.
Desde que eu era uma, adorava aquilo. Crianças riem por qualquer coisa, se permitem estupidezes, estão sempre correndo. São curiosas. Perguntam “por quê?” e quando recebem alguma resposta perguntam “por quê?” de novo. E de novo. E de novo. Se divertem com coisas simples. Qualquer galho vira uma espada, qualquer tampa de caneta vira uma nave. Não vivem com medo do que as outras pessoas vão pensar.
Eu era assim. Gostava de me divertir. Gostava de rir das coisas, de fazer piadas. Mas, à medida que fui crescendo, fazer piadas ia incomodando minha mãe. “Na frente das outras pessoas”, dizia ela, “você não pode falar bobagens.” Era uma lástima, já que eu adorava falar bobagens. Adoro, na verdade, até hoje. Mas, quando eu era criança, no meio dos adultos, tinha que me comportar.
Comportar-se significa ficar sentado enquanto adultos conversam sobre os assuntos mais enfadonhos do mundo. Comportar-se significa vestir uma roupa nova e desconfortável. Pentear o cabelo. Raspar a comida do prato. Não correr. Não gargalhar. Odeio me comportar.
Então, decidi que quando conseguisse um emprego e pudesse escolher, moraria sem pessoas muito adultas por perto. Encontrei uma menina que adorava rir alto e vestir roupas confortáveis. E nos casamos e tivemos filhas fofas, que adoram correr e gargalhar. Meninas que estão sempre com a mesma meia-calça e sujam as mãos com chocolate.
Esses dias, fui buscá-las na escola. Lá elas têm que se comportar. Imagino que seja por isso que às vezes querem faltar à aula. Enquanto esperava bater o sinal de saída, fiquei vendo os trabalhos das crianças de seis anos. Eram cartazes com a frase: “O que é amor?”.
Um dizia que amor era “quando você fala o nome de outra pessoa de um jeito meloso”. Achei perfeito. Outro que era quando “o cachorro abana o rabo pras pessoas”. Outra criança disse que “amor é quando o papai brinca de torre mesmo quando está cansado”.
Não sei o que é brincar de torre, mas realmente deve ser amor.
E as pessoas ainda me perguntam por que eu gosto tanto de crianças.
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