15 de setembro de 2015 | N° 18295
CARPINEJAR
O orgulho de ser gaúcho
Nunca vi tanta gente do bem dizer que pretende sair do Rio Grande do Sul e morar em outro Estado. Experimentamos uma semana farroupilha ao contrário.
E não são desertores, são sofredores, são desesperados, que não aguentam 40 homicídios num final de semana, não aguentam a soltura de bandidos assim que são presos por falta de condições nos presídios, não aguentam comerciantes morrendo com bala perdida quando vão levar seu cachorro para passear de noite, não aguentam óbitos violentos de adolescentes por motivo banal, em nome de um celular ou de um tênis, não aguentam brigadianos e policiais circulando em subcondições, sem um vencimento que honre a insalubridade da profissão, cansaram da esperança, não aguentam o abandono das ruas e dos parques, não aguentam os buracos das estradas, não aguentam a ansiedade e o nervosismo quando os filhos demoram a retornar ao lar, não aguentam as más notícias nas patas dos quero-queros.
Nossa alma pilchada está cada vez mais pichada de frases de protesto. Nossas tragédias são modelos para toda terra.
O orgulho de ser gaúcho foi ferido. Falar o que de bom daqui? Como exaltar o turismo se não há como sair em segurança de casa?
Antes, os professores faziam greve para aumentar os seus pequenos salários, hoje estão fazendo greve para manter os seus pequenos salários. Os tempos se agravaram. Manter o emprego é a única promoção que existe. O governo não poderia ter parcelado o salário do funcionalismo, ainda mais num Estado absolutamente familiar, absolutamente centrado na proteção familiar. Ele não constrangeu categorias profissionais, deixou de ser uma negociação com sindicatos, feriu a todos, baqueou o coração da família gaúcha.
Os servidores precisam mendigar o que merecem por direito para sustentar as suas crianças. Obrigações desandaram em reivindicações. Não houve mobilização civil e popular que preparasse o ambiente para uma crise, e sim decretos, em que benefícios foram suprimidos de repente. O funcionalismo virou uma horda de indigentes assalariados, voluntários forçados a seguir sem nenhuma palavra de afeto, condenados a tomar um veneno amargo diante da inexistência de bula. Trabalhar para quê? Como trabalhar sabendo que aquilo que está ruim tende a ficar pior? Ter ou não ter emprego não garante mais nada no final do mês. Estamos à mercê da roleta-russa da arrecadação.
Pois receber o valor do contracheque um mês depois, em parcelas a conta-gotas, apenas cria juros, empurra empréstimos goela abaixo e termina por criar um pânico financeiro.
Óbvio que haverá redução drástica do consumo, e aumento do endividamento. O salário atrasado não mais cobrirá despesas, e sim dívidas. Como alguém conseguirá atender as demandas fixas domésticas, irredutíveis, implacáveis com R$ 600?
O próprio governador dá o exemplo negativo: já que ele mesmo não paga as suas despesas e contraria as suas obrigações com a União.
Sirenes, apitos, buzinas, greves, protestos, passeatas e trânsito interrompido... Nem mais escutamos os sinos das igrejas avisando do meio-dia e da hora do almoço.
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