23 de setembro de 2015 | N° 18303
DAVID COIMBRA
Os sabotadores do Brasil
A ideia de que as maiorias têm poder é falsa, mesmo numa democracia.
As minorias mandam.
Minorias articuladas, naturalmente.
As maiorias querem viver em paz, não se mobilizam, salvo casos extremos, como na Revolução Francesa. Mesmo assim, a maioria dos cidadãos franceses se cansou do Terror que se seguiu à Revolução. Tanto que, poucos anos depois, um novo monarca arrancava a coroa das mãos do papa e coroava-se a si próprio na Notre-Dame de Paris.
Para se manter no poder e oprimir as maiorias, os grandes tiranos da História sempre se valeram de minorias organizadas e, em geral, violentas. Quando não fanatizadas.
A Revolução Russa foi desencadeada por um descontentamento geral parecido com o da Revolução Francesa, mas, como na Revolução Francesa, logo deixou a população exausta e desejosa da volta à suavidade da rotina dos dias. Os russos e demais povos agregados, assim, submeteram-se tristemente a um dos maiores carniceiros da História, o ditador de aço, Stálin. Processo semelhante ocorreu na China, no meio do século 20. Controlando alguns milhares, Mao matou milhões. Quando lhe perguntaram se lamentava o morticínio, respondeu que a China tinha uma população tão grande, que suportaria o sacrifício.
O poder das minorias sólidas é imenso. Hoje, 50 pessoas param Porto Alegre. Hoje, 300 deputados param o Brasil.
A oposição é parte indispensável de uma democracia saudável. Mas não o tipo de oposição que se faz no país.
No Rio Grande do Sul, desde a semana passada havia uma minoria ansiando pelo confronto com a polícia, trabalhando pela promoção de cenas iguais às ocorridas no Paraná no começo do ano, quando a PM bateu nos professores. Queriam que gente saísse da Assembleia sangrando e gritando contra a truculência do governo repressor. Essa é a prática das oposições no Rio Grande do Sul, uma oposição que não se importa se o que está sendo feito é bem ou malfeito, porque para ela só importa que não seja feito.
O projeto de Sartori é bom ou ruim? Não sei. Não o analisei em profundidade para dizer. Mas posso dizer que os que foram para a Assembleia armados ou dispostos a “quebrar para entrar”, como gritavam ontem, foram, exatamente, para criar um “fato político” que expusesse o governo, o atrapalhasse e, de preferência, o paralisasse. A derrubada do projeto tornou-se quase irrelevante. Queriam desgastar o governo.
Assim em Brasília. O que os deputados federais, inclusive alguns da base governista, estão fazendo? Estão inviabilizando o país. Estão sabotando o Brasil. Chegaram a aprovar um aumento de 57% nos salários do Judiciário, um acréscimo de despesas de mais de R$ 100 bilhões em três anos, para anular a economia proposta por Levy. Que tipo de oposição é essa?
Todos os projetos de Dilma serão rejeitados. Todos. Porque são ruins? Não. Porque, para os opositores, é importante que Dilma não tenha outra saída que não a renúncia. Empresas estão falindo, trabalhadores estão sendo demitidos, os brasileiros estão sofrendo, mas isso não interessa para eles. Interessa é que Dilma se veja diante do impasse de ter de renunciar para que o país volte a funcionar. E é o que acabará acontecendo. Tudo pelo poder. Algumas minorias podres. É o que basta para apodrecer todo um país.
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