quarta-feira, 16 de setembro de 2015


16 de setembro de 2015 | N° 18296 
DAVID COIMBRA

O país do quero o meu


Todo brasileiro é um injustiçado. Eu ganho pouco. Eu trabalho demais. Eu merecia uma casa melhor. Eu quero entrar antes. Eu quero fazer logo. Eu tenho meus direitos. Eu, eu, eu.

O brasileiro é o povo do “eu”. Ou do nós, quando o nós quer dizer eu, quando as nossas queixas são as minhas queixas. Ontem, um grupo de sindicalistas fechou os acessos à Assembleia Legislativa. Ouvi a entrevista da presidente do Cpers na Rádio Gaúcha:

– Está fechado! Ninguém entra até sermos atendidos!

A presidente do Cpers e os demais líderes sindicais acham que têm o direito de fechar a Assembleia Legislativa.

Só que a presidente do Cpers e os demais líderes sindicais não têm o direito de fechar a Assembleia Legislativa. E o presidente da Assembleia Legislativa, deputado Edson Brum, tem, sim, obrigação de acionar a polícia e desimpedir os acessos à Assembleia Legislativa.

Direitos? Os direitos são assegurados pela lei. Se está dentro da lei, você tem direito; se é contra a lei, você não tem direito. É simples assim. É a única forma de funcionar. Não há outra. Jamais houve.

Qualquer cidadão do Rio Grande do Sul, eu, você, o nababo mais opulento e o mendigo mais rastejante, todos têm o direito de entrar na Assembleia Legislativa. Se o acesso ao cidadão é vedado, seja por quem for, seja por qual razão for, o presidente da Assembleia Legislativa tem de tomar uma atitude e fazer cumprir a lei.

Faltou ao presidente da Assembleia, Edson Brum, autoridade. Ele não cumpriu o seu dever.

Faltou aos líderes sindicais respeito à democracia. Eles infringiram a lei.

Por que um e outros erraram? Porque cada um pensa apenas em si mesmo, na sua causa, no que acredita ser o seu direito.

O presidente da Assembleia tem medo de reagir e ser criticado pelas lideranças dos servidores. Ele perderia prestígio e votos se fizesse isso. Dane-se, então, o direito de todos os demais cidadãos do Rio Grande do Sul. O direito de entrar na “Casa do Povo”, o direito de ver os projetos do governo ou da oposição debatidos e votados, o direito de acompanhar a manifestação dos seus representantes eleitos legitimamente, esse direito foi negado ao cidadão. E o presidente da Assembleia não teve força, pulso ou coragem para fazer nada a respeito. Deveria renunciar ao cargo.

Já os líderes sindicais fazem no Rio Grande do Sul a oposição destrutiva que está sendo feita em Brasília. Por que a oposição quer o impeachment da Dilma? Para resolver os problemas do país? Não. Para tomar o poder.

Por que a oposição sabota agora e sabotará amanhã e sabotará sempre qualquer projeto do Sartori, qualquer um, por melhor que seja? Porque quer o bem do Rio Grande do Sul? Não. Para tomar o poder.

O meu partido. O meu grupo. O meu direito. Meu. Eu. No país do “eu”, não é a lei que rege a sociedade: é o grito. É a força. Mas tome cuidado: a força nem sempre estará ao seu lado.

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