sábado, 26 de setembro de 2015



27 de setembro de 2015 | N° 18307
ARTIGOS - DIANA LICHTENSTEIN CORSO*

PERGUNTAS CONSTRANGEDORAS

Responda rápido: o que temos no meio das pernas? Se você pensou nos órgãos sexuais, errou. Essa pegadinha infantil vem lembrar que às vezes supomos as perguntas mais constrangedoras do que elas realmente são. Isso é porque nossos pensamentos é que são meio travessos. A resposta certa é: os joelhos.

A brincadeira ilustra bem o que ocorre quando as crianças perguntam sobre sexo a seus pais. É uma situação em que elas sabem que os estão colocando em uma posição constrangedora e divertem- se ao vê-los balbuciar. Por isso, antes de começar labirínticas explicações sobre sementinhas, convém descobrir o que exatamente é que elas estão perguntando, pode ser só um joelho.

Elas gostariam de compreender muita coisa, mas somente interrogam sobre aquilo que estão prontas para escutar. Perguntar já é em si um ato de coragem, em geral as explicações são menos assustadoras do que as fantasias que surgem espontaneamente. As fantasias sexuais infantis são compostas a partir de fragmentos de conversas, imagens, enfim, um acervo que a criança está sempre coletando e que a leva, acredite, às conclusões mais disparatadas.

Por esses dias, uma mãe paulista ficou horrorizada quando seu filho de 11 anos, cursando a sexta série, lhe perguntou o que era uma prostituta. A indagação veio a partir de uma leitura recomendada pela escola: uma versão em quadrinhos do clássico Oliver Twist, na qual se recorria a uma linguagem mais contemporânea e própria do gênero. Junto a várias outras famílias, essa senhora participou de um movimento que questionava a direção da escola sobre o tipo condenável de valores que estavam transmitindo.

Mas, afinal, quando devemos falar para uma criança sobre temas que consideramos embaraçosos? A resposta é simples: quando ela perguntar, pois questionar é um signo de confiança em si mesmo e na sinceridade dos pais. Além disso, por que deveríamos lhes negar um desejo de crescer?

Um púbere que tenta falar em casa sobre prostituição está curioso das relações entre amor e sexo e quer saber da posição de sua família a respeito. Ele está entrando em contato com seus próprios desejos, intriga-o como é que isso poderia envolver dinheiro e por que esse é um xingamento tão grave. Mesmo depois de grandes, nossa própria sexualidade persiste enquanto um enigma que morremos sem decifrar. A surdez para a perspicácia dos filhos visa preservar uma fantasia de inocência que é preciosa só para os pais. Manter os filhos numa bolha é o propósito de famílias que tentam viver dentro dela.

A escola está certa. Com Oliver Twist, propõe um debate sobre um menino abandonado frente a uma sociedade hostil, em nada inconveniente para uma sexta série. Já esses pais, talvez não tenham amadurecido para acompanhar o crescimento dos seus filhos.

Diana Corso escreve quinzenalmente neste espaço

*Psicanalista dianamcorso@gmail.com

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