sexta-feira, 11 de setembro de 2015



11 de setembro de 2015 | N° 18291 
DAVID COIMBRA

A faxineira e o gato


Muitos dos brasileiros que se mudam para os Estados Unidos trabalham com faxina. É uma atividade razoavelmente bem-remunerada. Por uma faxina leve, de cerca de três horas, eles cobram US$ 150. Duas faxinas por dia, US$ 300. Total de US$ 6,6 mil em 22 dias de trabalho. R$ 27 mil por mês, com folga aos sábados e domingos. Que tal?

Bem. Uma moça de Minas Gerais, que milhares são de Minas Gerais nas cidades do entorno de Boston, pois essa moça trabalhava semanalmente como faxineira na casa de uma americana. A americana tinha gato e cachorro. Nos dias de faxina, ela levava o cachorro para o quintal, para não atrapalhar o serviço. No fim do dia, a faxineira devia trazer o cachorro para dentro de casa outra vez. Aquele era um cachorro de interiores.

Eis que, certa feita, depois da lida, a brasileira foi para o quintal, a fim de pegar o cachorro e recolhê-lo, e não o encontrou. Procurou lá, procurou cá, nada. Já estava preocupada. Até que o viu. E ficou aterrorizada com a visão: o cachorro carregava o corpo inerte do gato preso entre os dentes. A mineira primeiro gritou um ai de horror e depois deu um tapa na testa: com mil pães de queijo, o cachorro matou o gato e a dona da casa ia botar a culpa nela, que não tinha cuidado direito dos bichos! Que desgraça, ela ia ser demitida, a americana ia chamar a polícia, seria um escândalo!

O que fazer?

Decidiu agir rápido, e agir brasileiramente: tirou o cadáver da boca do cachorro assassino e o levou nos braços até o banheiro. Lavou-o bem na banheira, que o bicho estava todo sujo e escalavrado. Em seguida, secou o pelo com um secador de cabelos, penteou o gato e o acomodou num canto do sofá, como se ele estivesse dormindo.

Então, ansiosa, esperou a americana chegar. Esperou.

Quando a americana chegou, a primeira coisa que notou foi o gato no sofá.

– O que é isso? – perguntou, espantada.

A brasileira, malandra, fez um muxoxo:

– Pois é. A senhora vê que coisa: ele passou o dia inteiro aí, quietinho...

E a americana, boquiaberta:

– Mas ele morreu ontem, e nós o enterramos no fundo do quintal...

Parece piada. É fato. São inúmeras as aventuras e desventuras dos brasileiros que vêm aos Estados Unidos para ficar. Imagine o que eles enfrentam: longe dos amigos e do lugar em que nasceram, tendo de se virar numa língua estranha, chegando sem conhecer os costumes e os hábitos dos locais.

Mas eles quase sempre vencem, esses brasileiros. Trabalham duro, se esforçam e abrem seu espaço sob o sol distante do Norte. Do que eles precisam? De um país com uma economia funcional, que incentive a iniciativa. De segurança para simplesmente caminhar pelas ruas sem medo. De uma boa escola para seus filhos. Não muito mais do que isso. Parece tão pouco. Por que, para nós, é tão difícil?

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