sexta-feira, 18 de setembro de 2015


Jaime Cimenti

Geraldo Vandré, lenda controvertida da MPB
DIVULGAÇÃO/JC


Vandré - o homem que disse não (Geração Editorial, 280 páginas, R$ 39,90), biografia do celebradíssimo e histórico cantor, compositor e advogado Geraldo Vandré, nascido em 1935, do experiente jornalista e romancista Jorge Fernando dos Santos, mineiro de Belo Horizonte, colunista de teatro e cinema, que atuou em rádio, na tevê e na música, acaba de ser lançada e tenta oferecer respostas a perguntas que nunca calaram, sobre um dos artistas mais importantes e inônicos do Brasil.

Por sua amplitude social e alcance simbólico, Pra não dizer que não falei das flores, imortal canção de Vandré, se tornou uma espécie de símbolo do martírio e da resistência ao autoritarismo nos anos em que a juventude, intelectuais e artistas se engajavam contra a opressão, a tortura e o arbítrio da ditadura militar. Anos sessenta, 1964, Beatles, Tropicalismo, festivais de música, repressão, uma época marcante, inesquecível, os "anos de chumbo".

Quem foi realmente Geraldo Vandré? O que os militares da era repressora fizeram dele? O autor da biografia busca respostas para essas e outras obscuridades da vida do homem que, até hoje, desafia estudiosos e biógrafos. Controvertido, Vandré, hoje com 80 anos e vivendo no Rio de Janeiro, era visto como insuportável e encrenqueiro mas, ao mesmo tempo, era generoso e emotivo, segundo seus amigos. Muitos o consideravam um megalomaníaco sem limites. Depois que retornou ao Brasil vindo do exílio, muitos acharam que ele estava mais alucinado que antes.

Nascido na Paraíba, filho de um médico de esquerda, Dr. Vandregísilo, de onde veio o Vandré, Geraldo tornou-se cantor e compositor no Rio nos tempos da bossa nova. Suas primeiras composições guardaram essa influência, mas a nordestinidade e o interesse num canto mais popular e politizado prevaleceram. Com Disparada e Porta-estandarte, ele desabrochou nos festivais, vencendo dois deles e, com Pra não dizer que não falei das flores - Caminhando, fez o que muitos consideravam impossível: o público politizado da época vaiar o grande e genial Tom Jobim.

Citando fontes autorizadas, longas entrevistas em quase 300 páginas, em 18 capítulos, e mencionando a discografia e as composições de Vandré, o autor nos apresenta todas as nuances da personalidade de Geraldo Vandré e o clima trepidante dos anos 1960. A obra lança luzes sobre o mito e o enigma do homem carismático, contestador e controvetido que pagou caro por desafiar a ditadura, dizer "não" ao regime e que, depois de ser amado pelo público e odiado pelos militares, resolveu se afastar dos palcos, para perplexidade e tristeza de seus fãs. Vandré até hoje não fala. Os amigos contam muito.

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