quinta-feira, 24 de setembro de 2015


24 de setembro de 2015 | N° 18304 
CARLOS GERBASE

POGRÉSSIO, POGRÉSSIO


No dia 23 de agosto de 2009, a população de Porto Alegre foi chamada para dar sua opinião sobre um projeto que propunha a construção de prédios comerciais e residenciais na área do antigo Estaleiro Só. O debate foi muito parecido com o que estamos tendo agora sobre o Cais Mauá: os que defendiam o projeto (e o SIM no plebiscito) falavam em revitalização, modernização e progresso. 

Os que pregavam o NÃO contra-atacavam com a desfiguração da orla, a substituição do público pelo privado e a poluição gerada por mais gente trabalhando e morando num local que deveria ser preservado para o lazer e para o contato com a natureza.

Eu, além de votar NÃO, produzi, ao lado de Luciana Tomasi e de muitos outros simpatizantes da causa ambientalista, um vídeo com nossa opinião sobre o projeto, agregando muitos apoios importantes, como os de Luis Fernando Verissimo, Cíntia Moscovich, Zoravia Bettiol e Moacyr Scliar. Espero ter contribuído, pelo menos um pouquinho, com a vitória do NÃO, que impediu (pelo menos até agora) que seis prédios imensos formassem uma barreira entre a população e o Guaíba.

Agora é o momento de perguntar: aquela luta foi uma boa luta? A inexistência desses prédios é chorada pela cidade? O terreno, que continua do jeito que estava há seis anos, é um monumento ao obscurantismo e ao discurso imobilista dos ecochatos? Cada um que pense como quiser. 

Na minha opinião, aquele terreno “abandonado” é uma vitória da cidade, que disse NÃO a um progresso que só se instalaria trazendo problemas muito maiores que seus supostos benefícios. A humanidade continua acreditando que construir coisas novas e supostamente úteis – como shoppings, escritórios e estacionamentos - é o único caminho a seguir.

Contudo, a ciência – e não obscurantismo – já provou que esse caminho não leva à salvação, e sim ao desastre. A cidade de Porto Alegre não precisa de um progresso que a descaracteriza arquitetonicamente e promove o desequilíbrio ecológico. Se isso é ser “contra o progresso”, muito bem, sou mesmo contra o progresso. Ou, como diriam os Demônios da Garoa: “Pogréssio, pogréssio. Eu sempre iscuitei falar, que o pogréssio vem do trabaio. Então amanhã cedo vou trabalhar. Se Deus quiser, mas Deus não quer!”.

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