sexta-feira, 4 de setembro de 2015


04 de setembro de 2015 | N° 18284 
MOISÉS MENDES

Notório mistério


A morte da estudante Fernanda Lages é um mistério que há quatro anos constrange os piauienses. Li esses dias, por acaso, que há gente poderosa sob suspeita. Tão poderosa, que um juiz de Teresina chegou a determinar que a imprensa da cidade nada mais noticie sobre a morte enquanto não houver novidade.

Trato do assunto aqui pelo que tem de esdrúxulo. O juiz argumenta que os jornalistas vinham repetindo “notícias notórias com o já exaustivamente noticiado”. A imprensa, diz ele, não pode ficar tratando das mesmas coisas, mesmo que sejam coisas não esclarecidas.

Leiam o que ele escreveu: “Entendo desproporcional e desarrazoável a reiteração de notícias, quando ausentes fatos novos ou novos fatos, pelo que determino aos requeridos absterem-se de republicação de fatos evidentemente já publicados”.

O autor do pedido de censura aceito pelo juiz é um incomodado com as investigações. A proibição foi depois derrubada no Supremo pelo ministro Celso de Mello, em nome da liberdade de expressão e de informação.

Relembro agora o que li sobre esse episódio e anuncio, por contra própria, que não mais tratarei do caso Pedro Barusco enquanto não tiver novas informações. Recebo e-mails contundentes contra o que seria uma obsessão minha com o caso Barusco, sempre com a queixa de que nada há de novo sobre o ladrão avulso da Petrobras.

Barusco (vou ter que repetir) confessou ter juntado propinas desde 1997, no governo tucano de FH, como gerente de terceiro time da Petrobras. Sabe-se que todos os propineiros da estatal agiam em nome de alguém e transferiam parte das contribuições das empreiteiras a PT, PMDB ou PP.

Mas Barusco, que se comprometeu na Justiça a devolver US$ 97 milhões (R$ 360 milhões), assegura que nos anos FH agia sozinho. O único avulso. O mais esperto de todos. O cara que tomava dinheiro dos empreiteiros e não dividia com ninguém.

A ministra do STJ Maria Thereza de Assis Moura está certa quando diz que um delator entrega os líderes ou não tem valor nenhum. Barusco é delator, mas protege seus líderes dos tempos de tucanato. Esperei até agora que a Polícia Federal ou o Ministério Público chegassem aos líderes do homem. Faço perguntas repetidas: para quem ele trabalhava, de quem ele era laranja?

Como não sei nada até hoje e como tenho me repetido sobre o mistério Barusco, decido: não mais tratarei desse assunto sem nenhuma novidade. Cheguei ao limite. Só voltarei ao caso Pedro Barusco se tiver alguma notícia que não seja notória.

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