sábado, 2 de maio de 2015


02 de maio de 2015 | N° 18150
DAVID COIMBRA

Quero que o Grêmio seja campeão

Sim. Quero que o Grêmio seja campeão. Sei que, neste momento, os colorados estão me chamando de gremista filho duma #$#o@#%¨&l*(f)(&k%!, mas não, não quero que o Grêmio seja campeão por causa do Grêmio. Se o Grêmio de fato for campeão, será mais um entre dezenas de títulos gaúchos que conquistou, e entre outros tantos que conquistará. Campeonatos há todos os anos.

Não, não. Quero que o Grêmio seja campeão por causa de Luiz Felipe Scolari.

Nunca fui à casa de Luiz Felipe, ele nunca foi à minha. Não tenho o número do celular dele. Não saímos para jantar juntos. Nossa relação é meramente profissional. Até já fiquei irritado com Luiz Felipe e suponho que ele já tenha ficado irritado comigo também.

Mas quero que Luiz Felipe seja campeão.

Uma vez, entrevistando-o nos anos 1990, perguntei a Luiz Felipe sobre seus tempos de jogador, quando era um enérgico quarto-zagueiro do Caxias, parelha com Cedenir, protetor de Bagatini. Hoje, a lenda diz que não passava de um tosco, um violento, sem réstia de habilidade. Mas o vi jogar, e não o achava tão ruim assim. Ao contrário: para mim, tratava-se de um dos melhores zagueiros do Estado. Disse isso para Luiz Felipe, e ele contou que, no começo, espanava a bola e batia mesmo, mas que, depois, quando tomou confiança e os adversários o respeitavam, passou a jogar mais, a sair de cabeça erguida feito um Figueroa, a ousar passes de insinuação feito um Gamarra.

Luiz Felipe se sofisticou como jogador. Essa evolução profissional, não por coincidência, ele a repetiu no campo pessoal. No começo, Luiz Felipe reagia a cada desavença como se estivesse espanando a bola. Batia mesmo. Com o tempo, sentindo-se mais confiante e percebendo o respeito que os outros por ele nutriam, Luiz Felipe relaxou. Amigo dos seus amigos ele sempre foi. Não foram poucas as oportunidades em que Luiz Felipe demonstrou possuir o supremo predicado da lealdade. Com o tempo, ele se aproximou das pessoas e permitiu que elas se aproximassem dele.

Com a personalidade suavizada, Luiz Felipe tornou-se uma pessoa melhor. E foi então que sofreu o maior revés da sua vida profissional.

A goleada para a Alemanha, embora fosse imprevisível, foi compreensível. Nas quartas de final, escrevi um texto sobre como estava vendo os jogadores da Seleção. “Com o Brasil sobre os ombros”, foi o título. Temia a derrota para a Colômbia, tal era o clima passional do país, um clima entre a beligerância e o ufanismo, transmitido para os jogadores a cada minuto do dia por seus parentes, seus amigos, pela TV, pelo celular. O Brasil, que nunca foi fácil, está cada vez mais difícil, e aqueles jovens sentiram o peso de ter um Brasil inteiro com os olhos sôfregos postos neles. Isso ficou claro durante toda a Copa. Um único revés é decisivo para quem é instável. E foi. Em seis minutos, a Seleção se desmanchou. Nem um homem com a sabedoria futebolística de Luiz Felipe tinha como evitar a tragédia.

Luiz Felipe poderia ter acabado ali. Poderia ter desistido. Não seria de todo ruim, ele já conquistou tudo que um técnico teria para conquistar. Mas ele seguiu em frente. E, ao avançar, voltou às origens, ao time do seu coração, que o revelou para o mundo. “Preciso de carinho”, disse ao chegar, demonstrando que no peito de um zagueiro duro batia um coração macio.


Luiz Felipe no Grêmio são dois velhos recomeços. O futebol é feito de histórias, e essa é uma linda história, que tem provocado risos e lágrimas. Espero que tenha um desfecho coerente. Um desfecho feliz. Pela história de Luiz Felipe, quero que o Grêmio seja campeão.

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