quarta-feira, 7 de janeiro de 2015


07 de janeiro de 2015 | N° 18035
MOISÉS MENDES

Kátia, a milagrosa

Nunca antes, o Brasil teve um ministro da Agricultura da estirpe de Kátia Abreu. Desde a redemocratização, tivemos Pedro Simon, Íris Rezende, Antônio Cabrera, Synval Guazzelli, Pratini de Moraes, Roberto Rodrigues, Reinhold Stephanes, Francisco Turra, Mendes Ribeiro Filho.

São 25 ministros, desde o início da Nova República, em 1986. Nenhum, por mais conservador que fosse, teve em seu currículo discordâncias radicais com os sem-terra, os ambientalistas, os índios. Kátia Abreu teve e virou ministra.

No domingo, antes de assumir, deu entrevista e disse que não há mais latifúndio no Brasil. Se não há mais latifúndio, não é preciso fazer reforma agrária de massa, só alguma reforma pontual, aqui e ali.

Quando alguém imaginaria que uma fazendeira do Brasil central seria ministra do lulismo, numa das áreas mais caras às esquerdas? Kátia está tão à vontade que desafiou o MST a encontrar terras para desapropriação.

E dizer que, nos anos 50 e 60, os comunistas iriam revirar o Brasil com a destruição do latifúndio. A burguesia industrial urbana seria aliada do comunismo para acabar com o atraso. E o atraso era o grande proprietário de terras.

Ninguém fez reforma agrária. Jango ameaçou fazer e caiu. Os militares enrolaram com o bem- intencionado Estatuto da Terra, que iria sobretaxar áreas improdutivas. Não aconteceu nada. A opção, para esvaziar pressões, foi a colonização do Centro-Oeste e do Norte.

O Censo Agropecuário indica que propriedades com mais de mil hectares ocupam 45% da área total do país, o que não quer dizer nada. Em Goiás, quem tem mil hectares é dono de um sítio. Não achei dados sobre, por exemplo, áreas com mais de 5 mil hectares.

O ministro do Desenvolvimento Agrário, Patrus Ananias, disse ontem, dois dias depois da entrevista de Kátia Abreu, que é preciso “derrubar a cerca do latifúndio”. E agora?

Itamar Franco, em pouco mais de dois anos de governo, teve oito ministros da Agricultura. FH, em dois mandatos, teve quatro, o mesmo número de Lula. Kátia é o quinto ministro de Dilma.

Questões de terra são do ministério de Patrus. Mas faltava uma mulher na Agricultura para acabar com o latifúndio, antes de assumir e sem reforma agrária. É um problema a menos.


Foi mais fácil de resolver do que essa conta complicada do superávit primário.

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