07
de janeiro de 2015 | N° 18035
OLHARGLOBAL
| Luiz Antônio Araujo
Sinos
Ainda
sem confirmação por parte do Catar, a expulsão do mais graduado líder do Hamas
no exílio, Khaled Meshaal, é condizente com o estado das relações entre o
emirado e o mundo árabe. Desde a queda do presidente egípcio Mohammed Mursi, da
Irmandade Muçulmana – da qual o Hamas é o braço palestino –, em 2013, o grupo
que governa a Faixa de Gaza passou a contar com apenas dois aliados: o Catar e
a Turquia.
Esse
isolamento tornou-se ainda mais dramático durante a III Guerra de Gaza, de
junho a agosto do ano passado. No breve conflito anterior, em dezembro de 2012,
até mesmo o ministro do Exterior da Tunísia havia visitado o território durante
as hostilidades em sinal de solidariedade. Desta vez, as demonstrações oficiais
de apoio na vizinhança foram escassas, levando o ex-presidente Shimon Peres a
declarar que não havia mais guerra árabe contra Israel.
A
partir da Primavera Árabe, autocratas reais ou fardados do Oriente Médio
passaram a ver no Hamas um fator de instabilidade. A expulsão de Meshaal não se
deve, entretanto, ao medo da revolução – pela qual, justiça seja feita, o Hamas
não tem a menor culpa.
O
que está na ordem do dia é a normalização dos negócios entre o emirado e o
Egito. A Arábia Saudita e seus parceiros do Golfo vêm patrocinando a reaproximação
há meses, e o regime do general Abdel Fatah al-Sissi impôs como condição o fim
do apoio de Doha ao Hamas e a outros ramos da Irmandade Muçulmana,
especialmente a seu mais importante ramo, o egípcio.
Al-Sissi
precisa proteger o flanco diplomático. Passado um ano e meio de sua ascensão ao
poder, e às vésperas do quarto aniversário da queda do ditador Hosni Mubarak, o
país vive uma atmosfera opressiva, com prisões lotadas, aumento da violência
nas grandes cidades e no Sinai e perseguição a gays. O passado recente mostrou
que o destino pode ser cruel com tiranos que não sabem por quem os sinos dobram.
E os sinos no Egito têm sido particularmente barulhentos.
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