02
de dezembro de 2014 | N° 18001
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Dinheiro não compra
tudo
São
tantas as conquistas femininas ao longo do tempo, de independência do jugo
masculino, que não vale jogar fora por uma noite. Não se rebaixe a sujeitos que
pensam que podem comprá-la por conforto e ostentação. Dinheiro não traz paz de
espírito.
Não
aceite, por exemplo, que o homem pague bebida, ele vai supor que está a fim
dele e entender errado. A cortesia custará caro. Não troque seu charme por um
favor ou uma dose de vodca. Não alcance esperança se não existe nem atração.
Não faça o tipo acreditar que tem chance apenas para baratear o custo da
balada.
Não
transmita a ideia de que um camarote representa alguma vantagem ou preliminar.
Ser VIP é uma ilusão. O cercado vira uma prisão. Não se diminua esteticamente,
a ponto de decorar o ambiente, suportando o anfitrião se vangloriando de suas
coxas à mostra. A pulseira colorida não amadurecerá em aliança.
Não
admita metade do preço das baladas e bares. É uma cilada machista. É tratar a
mulher como manada para atrair homens. Pague o valor integral, para não ser
vista como uma isca.
Ao
sair, preveja condições de ir e voltar, sem depender de milagres. A autonomia
protege a escolha.
Passe
a mensagem correta, doa a quem doer. Quer sexo ou amor? Já venha com a pergunta
definida de casa. Homem não tem complexidade para perceber os dois juntos.
Dificulte
a vida do pretendente – homem se apaixona ao ser desafiado. A dúvida cria o
mistério. Brigue, conteste, não concorde com tudo fingindo que é agradável. Bajulação
é demonstração de submissão. Primeiro, estabeleça o contato. Depois, aceite a
cantada. Não adianta reclamar do imprevisível e se lamentar como vítima do
destino. Desde antes, diga o que deseja. Quebre a coluna vertebral das
palavras, explore a sinceridade e a realidade, não simule que será uma história
de amor ao perceber grosseria e laconismo. Não force a barra por visibilidade e
confiança perante as amigas.
Homem
emprega o artifício de deixar rolar para não se comprometer. Recuse o
expediente da passionalidade, da mágica, do encontro astrológico. Fundamente a
opção com boa conversa e cuidado.
Quando
o homem escuta, não significa que esteja concordando. Provoque sua fala, para
que ele se denuncie e entregue suas contradições. Se ele não sabe falar, não
saberá amar.
Muito
menos aposte no trago para criar empatia. A bebida não tornará ninguém melhor,
somente piora o que já existe.
Não
seja contra o cavalheirismo, é um indício de relacionamento sério. Perder tempo
é dedicação. Não se oponha a que ele puxe a cadeira, segure o guarda-chuva,
abra cervejas. Educação nunca faz mal. Um homem educado é o princípio de um
homem gentil. Gesto é sempre honra, não moeda.
A
vulgaridade envelhece. Não ponha vestidos que não permitam respirar. Tubinhos
que fazem todas parecerem iguais e prontas para o sexo. Com a barra na altura
da calcinha. É o uniforme do desespero. Aproveite a moda como ideologia:
vestidos coloridos, combinações descoladas, vivas, com traços de sua
personalidade. A aparência é a alma do olhar. Aja para o amor verdadeiro com
espontaneidade. Não guarde vergonha de suas crenças e convicções.
Não
transe nos banheiros ou nos corredores das casas noturnas. Pode concluir que
foi uma aventura, um encontro inesquecível, arrebatador. Só que ele vai reconhecê-la
como fácil e barata – sequer necessitou pagar motel.
Homem
enumera as mulheres que pegou aos amigos. Não seja um número. Se ficou com um,
não fique com outro da mesma turma. Será vítima de bullying sexual.
Transe
porque tem vontade, não para despertar o interesse ou receber uma recompensa
emocional. Que a facilidade seja consciente e alegre, não triste e resignada.
Romance não é sobremesa, precisa vir com o prato principal.
Liberdade
é jamais faltar respeito consigo. Ao identificar que ele não respeita seu
ritmo, dispense. Não atalhe com medo de perder alguém. O atalho é o caminho
mais longo, cheio de explicações, remorsos e desculpas.
A
paciência é sinônimo de sedução. Dispense frases de para-choque de caminhão.
Procure despertar o improviso, a inquietação, a novidade.
Não
se convide para dormir na residência de um desconhecido, jurando que tem boas
intenções. Ainda que não aconteça nada, ele se envaidecerá de expor seu
apartamento disputado para a vizinhança.
Não
dê oportunidade de flerte a homem comprometido. Que o estado civil se
transforme em pré-requisito, não alimente suspense para descobrir do pior jeito
na semana seguinte. Preferível o constrangimento ao vexame.
Intimidade
vem com a ternura, jamais para quem tem pressa.
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