01
de julho de 2014 | N° 17846
FABRÍCIO
CARPINEJAR
Dono do mundo
Não
tenha medo de quem é ciumento, mas de quem é possessivo.
O
ciúme não é nocivo, é um sentimento sadio e normal para revelar os limites da
aceitação e da dependência. Moderado, transmite inclusive uma sensação charmosa
de cuidado e de proteção. No início do
relacionamento, revela paixão e comprometimento.
Ciúme
é uma insegurança passageira, uma carência pontual. Costuma ser mais uma dúvida
do que uma desconfiança.
O
problema é a possessividade, que impõe conclusões e não questiona, sempre
incontrolável e insaciável.
A
possessividade é o ápice do machismo, escraviza e anula personalidades.
Com
a fachada da adoração, o sujeito cria uma prisão emocional . Não permite que a mulher viva nada além do
que é concedido dentro da relação. Seus elogios são mesadas. Suas gentilezas
são oportunistas. Seu cerco é castrador.
O
que ele busca é enfraquecer sua companhia de tal maneira que ela não apresente
mais individualidade e forças para se opor. Sua tática é cansá-la perguntando e exigindo
explicações para qualquer coisa. Disposta a não se incomodar e evitar os conflitos,
ela vai dizendo sim e apagando as diferenças.
É
como ter um pai patrão, não um marido. É como ter um chefe, não um cúmplice. É
como ter um dono, não um parceiro.
A
possessividade não é brincadeira, não é engraçada, não é bem-vinda.
O
possessivo será rude com seus amigos e familiares, será grosseiro com seu
círculo de convivência, armará barracos e escândalos nos momentos de suas
maiores alegrias, sob o pretexto de sinceridade e transparência e que precisa dizer o que vem sentindo.
Sem
se dar conta, estará pedindo autorização para se vestir, para sair, para falar,
para se comportar, para se divertir. Tudo o que fizer dependerá de relatórios
minuciosos e narrativas detalhadas, e nada agradará para garantir a confiança e
a liberdade.
Um
cafetão seria mais discreto e generoso.
Terá
seu Facebook administrado pelo marido, seu celular monitorado pelo marido, seus
gastos checados pelo marido. O controle começará com o tamanho e o perfil das
roupas , depois avançará para as fotos nas redes sociais, prosseguirá nas amizades
(seus conhecido dependem de aprovação à semelhança de linha de crédito ) e, por último, desembocará na utilização
das palavras em mensagens.
A
possessividade é a ameaça de bomba
dentro de sua casa. Pode evacuar o coração. Não costuma ser trote.
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