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segunda-feira, 4 de julho de 2011
04 de julho de 2011 | N° 16749
PAULO SANT’ANA
Folga conjugal
Amigo leitor, amiga leitora, confesse só para mim: qual a pior solidão, a solidão de quem está sozinho ou a solidão a dois?
Já eu não sei dizer qual é a pior solidão. Sei qual é a melhor solidão: é a solidão a três.
Só há duas maneiras do ser humano entrar em crise: a primeira é pela solidão. A segunda é pelo relacionamento.
Quando se está mergulhado num relacionamento em crise, pode-se ambicionar a solidão.
E é lógico, não estou dizendo nenhuma novidade, quando nos abatemos em crise de solidão, almejamos quem sabe um relacionamento.
O problema é que quase nenhum de nós está preparado para a solidão. E o diabo é que nunca cogitamos se estamos preparados para o relacionamento.
É raro, raríssimo, mas existe gente que é feliz e realizada na solidão.
E não é raro que se seja infeliz no relacionamento.
E é sublime quando se é feliz no relacionamento, é tudo que se pediu a Deus.
Interessante é que a solidão leva ao relacionamento.
E é também interessantíssimo que o relacionamento atire as pessoas à solidão. Daí o ditado popular de que “antes só do que mal acompanhado”.
Já um amigo meu da Rua Padre Chagas vive dizendo que tem tanto medo da solidão que pensa que é melhor estar mal acompanhado do que só.
Rola-me na cabeça o cérebro oco. Por isso não sei se já escrevi nas linhas aí de cima que é possível estar-se só num relacionamento, mas é impossível relacionar-se na solidão.
Não sei se vou / não sei se fico/ se fico aqui ou se eu fico lá/ se estou lá tenho que vir/ se estou aqui eu tenho de voltar.
É bem assim, como diz o Martinho da Vila, o que se dá comigo: quando eu estou só, quero me relacionar, quando estou relacionado anseio por estar só.
O pior de tudo é quando a gente está sozinho contra a vontade. Como também é chatíssimo estar relacionado de má vontade.
Enquanto que o ideal é o que prego, o casal morar em casas separadas: ao mesmo tempo em que há o relacionamento, dá-se também trânsito à solidão.
Encheu o saco de estar só, um corre para o outro. E o contrário: encheram o saco de estar juntos, dão uma pausa de dias ou de semana.
Por esse método, não se tem férias conjugais, e sim “folga conjugal”.
É melhor dar-se, conceder-se folga conjugal do que o que fazem inamistosamente certos cônjuges: greve conjugal.
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