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segunda-feira, 4 de julho de 2011
04 de julho de 2011 | N° 16749
LUIZ ANTONIO DE ASSIS BRASIL
Inverno
Sabemos que no Sul somos diferentes. Algumas coisas nos constrangem; outras, nos orgulham. Em certos casos, nos orgulhamos e constrangemos pelo mesmo fato. Mas se há algo acima disso, é nossa familiaridade com o inverno.
Mesmo os que falam mal do frio, cultivam, no seu íntimo, certa vaidade no uso dos sobretudos, casacões, cachecóis (que aqui chamamos de mantas), luvas e tudo o mais. O sucesso das campanhas do agasalho mostram bem que desejamos todo mundo aquecido, dividindo conosco as vantagens da estação. Por outro lado, o aumento do poder aquisitivo das pessoas permite que elas se abriguem não apenas para se protegerem do frio.
Mas quais são as vantagens concretas do inverno? Antes de mais nada, o clima propício ao estudo. Todo mundo conhece a frivolidade das “leituras de verão”; só as leituras de inverno têm algum valor. No inverno, um pequeno livro de ensaios torna-se um tratado; uma novelinha vai para a categoria dos grandes romances, cada poema equivale a uma epopeia.
Uma noite de inverno é suficiente tanto para construir um sistema metafísico como para, de pé, na cozinha, fazer uma gemada. No inverno passamos a entender de vinhos. Os gatos tornam-se mais indolentes e os cães pensam duas vezes antes de latirem.
Coisa superficial e tola, porém, é a neve, feita para os basbaques. Nós, gaúchos, gostamos mesmo é de ver a geada cobrindo os campos – e sabemos que logo a natureza irá recompor a paisagem. Algo grandioso, porém, é o Minuano, que corre pelas planícies, levantando os chapéus em curvas graciosas. O Minuano nos pertence. É ele que traz o céu de azul altíssimo. Sem o Minuano, perdemos nossa essência.
Não por nada que a literatura aqui produzida insiste no inverno. Quase todas as histórias de Simões Lopes se passam no inverno. Assim são com as obras de Erico Verissimo, com os poemas de Lobo da Costa ou com os contos de Aldyr Schlee e Sergio Faraco. E temos, fora de concurso, Vitor Ramil, que criou sua gentilíssima estética do frio. Essa iluminação, por si só, não fosse sua importante obra, lhe garantiria a posteridade. Para os escritores, o verão é uma anomalia da natureza que deve ser logo ultrapassada.
E aqui é o momento de retocar o primeiro parágrafo: sim, temos todas as razões para nos orgulharmos de nosso inverno. A literatura que o diga.
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