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sexta-feira, 1 de julho de 2011
01 de julho de 2011 | N° 16746
DAVID COIMBRA
Tanta coisa a fazer...
O meu filhinho não quer escovar os dentes, e eu digo:
– Algumas coisas a gente tem que fazer sempre. A gente sempre tem que escovar os dentes depois de comer.
Ele não quer comer, e eu:
– Algumas coisas a gente tem que fazer sempre. A gente tem que se alimentar todos os dias.
Ele não quer se recolher para dormir, e lá vou eu:
– Algumas coisas a gente tem que fazer sempre. A gente tem que ir dormir em certa hora da noite.
Até que, dia desses, depois de eu repetir mais uma vez que a gente tem que..., ele suspirou:
– A gente tem que fazer muita coisa, papai...
Três aninhos e já está soterrado pelo peso das obrigações. Três aninhos...
No outro extremo da existência, tempos atrás, uma senhora amiga de uma amiga minha, ao completar 60 anos, suspirou como suspirou meu filhinho:
– Que bom chegar aos 60 anos. Assim não preciso mais estudar inglês, nem fazer sexo.
Se é verdade que depois dos 60 anos a gente não precisa mais estudar inglês, eis aí uma boa notícia. Estudar inglês é um porre. Quanto ao sexo, considero a atividade divertida, não um fardo, mas reconheço que todo o processo envolvido na negociação para se obter consentimento para o sexo é cansativo. E depois, quando tudo já foi consumado, o trabalho de manutenção é ainda mais desgastante. Mesmo assim, não seria esse gênero de obrigação que me faria reclamar.
O que me faz reclamar e dar razão ao meu filhinho e à senhora sessentona é constatar que, quanto mais se desenvolve a ciência e a tecnologia, mais coisas tenho a fazer. Quer dizer: a vida não fica mais simples, fica mais complicada.
As pessoas não apenas exigem que você estude inglês, elas também querem que você tenha uma página no Facebook, um perfil no Orkut e outro no tuíter, querem que você faça exercícios todos os dias e mastigue os alimentos 42 vezes, querem que você responda todos os emails e leia os jornais do centro do país, querem que você faça limpeza nos dentes e o exame de toque, querem que tire a pressão de 15 em 15 dias e que verifique o nível do seu colesterol. E querem que você trabalhe!
Ao meu filhinho, que só quer brincar, repito sempre:
– Está apenas começando...
Porém, não é bom que termine, e é isso que tenho a dizer à senhora sessentona. Quando você para de aprender e de fazer, quando você para de lutar, você está parando de viver. Pode ser cansativo, mas, como disse um dia Mencken, a vida quer ser vivida.
Espero que isso sirva de consolo à senhora sessentona, ao meu filhinho, a mim mesmo, com minhas fadigas, mas principalmente espero que sirva de conforto a todos os que se revoltam com a possibilidade de aumentar a idade para se aposentar.
A reforma nas aposentadorias é inevitável em o todo mundo. Será aqui também. Todos trabalharemos mais tempo. Mas viveremos mais tempo também.
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