quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011



02 de fevereiro de 2011 | N° 16599
PAULO SANT’ANA


Chaga aberta

Pode ser que eu não desista de defender os consumidores, mas que dá vontade, dá, tantas são as incomodações por que passo sempre que o intento.

Agora mesmo, o Sindicato dos Servidores da Justiça do RS insiste para que esta coluna publique uma resposta à crítica que um consumidor fez ao Juizado Especial de Novo Hamburgo por estar fechado numa sexta-feira à tarde e por isto não poder ser ajuizada uma ação em que pedia lhe fosse indenizada uma máquina de lavar louça que a loja lhe vendera estragada.

A resposta que o sindicato parece exigir desta coluna é redundante. Sobre o fato, já tinha se manifestado o desembargador Túlio Martins, da Comunicação Social do Tribunal de Justiça, que passou, por esta coluna, uma carraspana no consumidor queixoso, expondo as razões do funcionamento em horário especial de verão das varas respectivas. O desembargador já defendera aqui os servidores da Justiça e ela própria.

Mas o sindicato insiste. E, como eu tenho muito respeito pelos sindicatos, dou-lhe voz.

O sindicato alega que estava fechado o Juizado porque o horário de funcionamento no verão é das 8h às 15h, portanto sete horas ininterruptas de trabalho.

O consumidor chegou certamente depois das 15 e por isso não foi atendido.

E brada o sindicato: “Estimado jornalista, o ócio não é o esporte predileto dos servidores da Justiça, sendo que a matéria jornalística, completamente injusta a eles, com certeza será objeto de imediata e ampla recomposição, dada a veia poética, justa, democrática e humana que informa a personalidade de Vossa Senhoria, que não deixará por mais tempo esta chaga aberta, sangrando na alma dos servidores”.

Está aí a “recomposição”, como quer o sindicato.

Talvez prejuízo maior somente tenham meus leitores, que foram obrigados a ler este embate insistente sobre a queixa do consumidor desrespeitado pela loja e pela fábrica do equipamento que foi vendido em estado de avaria.

Mas, enfim, são os cavacos do ofício. Nem tudo é sempre um mar de rosas para um colunista. Às vezes, surgem espinheiros no caminho do viandante.

E, quase sempre que o colunista investe sobre defesa de consumidor ou outras questões ligadas ao serviço público ou ao privado, sofre atribulações.

Por sinal, quem pensa que um colunista só colhe frutos deliciosos em sua carreira, engana-se totalmente.

Não é a respeito deste caso de hoje, mas são enormes os perigos dessa vida para quem escreve.

Porque a escrita não é como a palavra falada, ela cala fundo, ela fere fundo, ela marca, assim como ela serve de hóstia de comunhão ela também pode se tornar um punhal afiado que sangra.

Mas, enfim, são os percalços da profissão.

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