quarta-feira, 5 de janeiro de 2011


RUY CASTRO

Salto alto

RIO DE JANEIRO - Comecei a reparar na coisa nos anos 90, quando FHC, no Brasil, e Bill Clinton, nos EUA, tomaram posse como presidentes. Apesar de maduros, os dois assumiram suas cadeiras com um frescor, uma determinação e um brilho nos olhos que os fariam parecer invencíveis pelos quatro anos seguintes -que, no caso de FHC, por um fenômeno de aritmética, também se tornaram oito. Mas o poder, pela responsabilidade que envolve, sempre apresenta a conta.

Já ao fim do primeiro mandato, FHC e Clinton exibiam suspeitos vincos, rugas e pés de galinha; ao fim do segundo, as olheiras caligarescas, os cantos caídos da boca, o grisalho à prova de tinta e uma tendência facial ao papiro eram a prova eloquente do desgaste do poder.

Dorian Gray ao contrário: nas paredes das repartições, a foto oficial do recém-empossado, sorridente, faixa ao peito e jovem para sempre; na vida real, às vezes bem debaixo da foto, o próprio, curvado e abatido pelo cargo. (Fora do palácio, Clinton e FHC rejuvenesceram.)

Nem Lula, o presidente mais feliz em 121 anos de República, escapou desse desgaste. Nas retrospectivas que os jornais fizeram de seus oito anos na cadeira, era nítida a diferença entre o homem que entrou e o homem que saía.

A presidente Dilma estava muito bem no dia de sua posse. Os dois meses de intervalo entre sua vitória nas eleições e o ato de ser enfaixada presidente lhe foram benignos. Ela parece hoje mais bonita, mais leve e mais simpática do que no ano e meio de tiroteio da campanha. Mas a Presidência não é um piquenique em Paquetá.

Pelos próximos quatro ou oito anos, sua rotina exigirá tremendos e incontáveis deslocamentos, trocar de tailleur duas ou três vezes por dia e refazer a maquiagem o tempo todo. Sobretudo, passar horas seguidas de pé. E não é só a responsabilidade. Dilma terá de fazer tudo isso de salto alto.

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