sábado, 8 de janeiro de 2011



08 de janeiro de 2011 | N° 16574
CLÁUDIA LAITANO


Amor sustentável

Reunidos no programa de Oprah Winfrey para lembrar os 40 anos da estreia de Love Story, os atores Ali McGraw (72 anos) e Ryan O’Neal (69 anos) protagonizaram um encontro docemente melancólico diante das câmeras algumas semanas atrás. Falaram dos amores nem tão perfeitos da vida real, de solidão, velhice e flertaram um pouquinho um com o outro também – que ninguém é de ferro, e os dois estão solteiros.

Oprah, ainda adolescente na época em que o filme arrancava hectolitros de lágrimas de plateias do mundo todo, quis saber o que Ali McGraw pensava de uma frase que viria a se tornar uma das mais conhecidas (e obscuras) da história do cinema: “Amar é jamais ter que pedir perdão”.

A jovem Oprah, como outros espectadores da época, ficou intrigada com a sentença, dita duas vezes no filme e repetida por milhões de namorados sem muita reflexão nos anos seguintes – mesmo contrariando todo e qualquer bom senso.

Como alguém ama ou simplesmente convive com outra pessoa sem nunca pedir desculpas? À luz da maturidade e diante de milhões de espectadores, a atriz admitiu que a frase era mesmo uma asneira e lamentou não ter se dado conta disso antes de eternizá-la no cinema.

Trata-se de um caso curioso de celebridade negativa de uma frase com repercussão quase instantânea – e talvez na mesma proporção do sucesso do filme. Em 1972, na divertida comédia

Essa Garota é uma Parada, em que contracena com Barbra Streisand, Ryan O’Neal faz piada com o diálogo de seu filme mais famoso e decreta: “Essa é a frase mais idiota que eu já ouvi”. Até John Lennon teria dado seu pitaco sobre o assunto na época: “Amar é pedir desculpas de 15 em 15 minutos”.

A ideia de que o amor não só se aperfeiçoa, mas se constrói na comunicação cotidiana (dizendo-se não apenas “perdão”, mas “opa, não gostei” ou “segura essa para mim que eu já volto”) já é lugar-comum, mas na época de Love Story o casamento como o conhecemos hoje, aquele em que os laços das convenções sociais ou da dependência econômica já não são suficientes para justificar sozinhos uma convivência, ainda estava sendo inventado (inclusive por casais como John e Yoko).

Hoje já se fala até em “casamento sustentável”, teoria que toma emprestado o termo ecologicamente correto para tentar explicar por que alguns relacionamentos sobrevivem e outros não – como ecossistemas.

A sustentabilidade, segundo essa teoria, seria proporcional ao ganho individual dos parceiros em um relacionamento – o que parece tremendamente egoísta e antirromântico, mas faz algum sentido.

Se as pessoas já não buscam no casamento apenas a satisfação de necessidades econômicas ou sociais, o que faz com que elas permaneçam juntas em uma época de laços amorosos tão frágeis é, em última instância, a percepção de que o parceiro, de alguma forma, deixa suas vidas mais ricas e interessantes, não apenas pelas afinidades, mas principalmente pelas diferenças.

Amar (sustentavelmente) é dar valor a tudo aquilo que você jamais viveria se não estivesse ao lado de quem está. Já pensou?

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