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terça-feira, 5 de agosto de 2008
CYRO MARTINS, O MELHOR DOS GAÚCHOS
O Brasil nunca teve mais de três excelentes escritores. Já é bastante. O segundo Machado de Assis, maior de todos, morreu em 1908.
Guimarães, o segundo melhor, nasceu em 1908. O Rio Grande do Sul teve um grande escritor, acima inclusive de Erico Verissimo: Cyro Martins. Hoje, o autor da trilogia do 'Gaúcho a Pé' faria 100 anos se ainda estivesse por aqui desmontando os mitos do Rio Grande do Sul.
O ano de 1908 foi prolífico. Na França, foi o ano do nascimento do antropólogo Claude Lévi-Straus, o maior gênio das ciências humanas do seu tempo.
Nascido em Quaraí, Cyro Martins se tornaria médico e psicanalista. Parece que foi muito bom nessas atividades curativas. Mas foi estupendo em literatura. Não inventou uma nova linguagem nem criou um gênero diferente. Limitou-se a antecipar o movimento de desconstrução das mitologias.
Em 'Sem Rumo', 'Porteira Fechada' e 'Estrada Nova' pintou a decadência da Campanha com a precisão de um grande artista. Enquanto Erico Verissimo inventava uma origem mítica para o Rio Grande do Sul, semeando chavões e adulando o ego gaudério, Cyro derrubava discretamente as ilusões gauchescas. Fez isso sem amargura nem ressentimento.
Erico descreveu um ambiente que lhe era, no fundo, estranho, embora isso não seja um obstáculo intransponível, como provou o argentino Borges. Cyro Martins colocou em ficção a verdade que realmente conhecera.
Quem viveu na Campanha e migrou para a periferia das pequenas cidades do Interior, cumprindo o itinerário do êxodo rural, não sai ileso da leitura dos romances de Cyro.
É triste, cruel, nostálgico, exato e veraz. Eu nunca duvidei: só dois autores gaúchos me marcaram como leitor infantil e adolescente: Simões Lopes Neto e Cyro Martins. Eu os li, pela primeira vez, em Palomas. Simões tinha gosto de lenda e de causo à beira do fogo. Era lindo, divertido, colorido e ligeiramente falso. Uma fogueira de São João sem época.
Cyro Martins era doloroso e terrivelmente verdadeiro. Depois de 'Um Menino Vai para o Colégio' e 'Porteira Fechada' eu me senti transfigurado.
Parecia que um mágico às avessas, com um extraordinário poder de desencantamento, surgira do meio dos campos para revelar cristalinamente uma verdade ao alcance de todos, mas sempre negada ou maquiada. Poucas vezes um escritor gaúcho foi tão longe no desmascaramento do nosso imaginário.
Cyro estendeu o Rio Grande num pelego e fez sair da sua alma o suspiro derradeiro das fábulas. Antes dele, Alcides Maya tinha ensaiado a desmontagem dos nossos mitos. Maya era ótimo, embora escrevesse difícil, meio parnasiano, meio empolado.
Nada disso ocorre com Cyro Martins. Límpido, direto, simples, escreveu uma crônica profunda das nossas metamorfoses políticas e econômicas. Erico Verissimo falou da Campanha para os urbanos. Cyro Martins revelou a Campanha para quem dela vinha e, ao mesmo tempo, ridicularizou os clichês que ainda hoje gostamos tanto de alimentar.
O centauro dos pampas, nas suas páginas, não é mais do que um desempregado num boteco de cidade sonhando com um mundo que nunca mais voltará. Não é difícil imaginar as razões da menor popularidade de Cyro Martins.
O mágico é sempre mais popular do que o sujeito capaz de apontar os seus truques sem fazer alarde nem se gabar da sua clarividência. Cyro Martins foi um elegante anti-Erico.
juremir@correiodopovo.com.br
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