quarta-feira, 20 de agosto de 2008


PAULO BORNHAUSEN

Petrolula: calote no trabalhador

Lula agora ameaça dar um calote histórico nos trabalhadores que investiram o FGTS em ações da Petrobras

EM AGOSTO de 2000, o governo do presidente Fernando Henrique Cardoso colocou 180 milhões de ações da Petrobras à venda tanto para o mercado doméstico quanto para o externo. Para o mercado interno, foi aberta a possibilidade de utilização de recursos do FGTS para a compra de ações.

Exatos 310.218 trabalhadores brasileiros adquiriram um total de 46.305.561 ações da nossa companhia petrolífera, tornando-a ainda mais brasileira.

De agosto de 2000 até abril deste ano, as ações que foram compradas com o FGTS tiveram um rendimento magnífico de 1.461%.

Paulo Pereira da Silva, presidente da Força Sindical e deputado federal pelo PDT paulista, foi o primeiro a usar uma parcela do FGTS para comprar ações da Petrobras em 2000 e o garoto-propaganda da operação montada no governo de Fernando Henrique Cardoso.

Em 2007, segundo declarações do deputado e líder sindical à imprensa, de um saldo de R$ 36 mil de seu FGTS, metade foi aplicada em papéis da estatal, valendo, no ano de 2007, R$ 118 mil. No mesmo período, a outra parcela valorizou-se para apenas R$ 27 mil.

De acordo com levantamento da Andib (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), em junho deste ano, os fundos Petrobras/FGTS tinham cerca de R$ 11 bilhões em investimentos. No mesmo levantamento, a Andib informa que esses fundos registram valorização de 87,89% em 360 dias, o melhor rendimento do mercado de fundos no período.

A disparada mundial dos preços do petróleo e as descobertas de novos campos na bacia de Santos, evidentemente, trouxeram euforia para os investidores, notadamente os trabalhadores brasileiros.

Dados da AIE (Agência Internacional de Energia) justificam essa euforia. A agência destaca, em seu último relatório, que o Brasil terá, até o ano de 2013, entre os países que não pertencem à Opep (Organização dos Países Exportadores de Petróleo), o maior crescimento de produção de petróleo -cerca de 800 mil barris até aquele ano, graças especialmente ao campo de Tupi.

O mundo lá fora vê esse potencial como essencial para regularizar o abastecimento de petróleo, talvez até mesmo acabar com a crise atual. Aqui dentro, esses números trazem alento fenomenal para os trabalhadores dos fundos FGTS/Petrobras e a outros pequenos acionistas.

Traziam alento, mas, agora, eles indicam forte possibilidade de prejuízo para esses investimentos. Trazem o risco de um calote histórico.

O mesmo presidente Lula que usou o sucesso dos fundos FGTS/Petrobras como justificativa para a aplicação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço nas obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), agora ameaça esses trabalhadores com calote nas aplicações em ações da Petrobras.

Sob o mando do nacionalismo irresponsável, Lula anuncia a disposição de criar uma estatal, tão-somente estatal, para explorar as novas descobertas da Petrobras em águas brasileiras. Descobertas, é importante frisar aqui, financiadas pelos acionistas da empresa -grandes e pequenos acionistas.

Por mais que diga e repita que a criação da nova estatal petrolífera não vai interferir no sucesso da Petrobras, é inquestionável e incalculável o prejuízo que vai ser causado para os investidores desta última.

Era de esperar mais maturidade e profissionalismo do atual governo brasileiro, sobretudo após sua desastrada figuração na Rodada Doha.

Para nós, dos Democratas, a repercussão internacional dessa mais nova sandice de Lula é menos importante que a traição a ser perpetrada aos trabalhadores pelo presidente da República eleito pelo PT, o Partido dos Trabalhadores.

O Congresso Nacional, mesmo que não convocado para debater o tema, com certeza não permitirá que se concretize essa que pode ser uma "alopragem" de dimensões nunca antes ou jamais vistas neste país.

PAULO BORNHAUSEN , 44, advogado, é deputado federal (DEM-SC), vice-presidente e vice-líder do partido.

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