terça-feira, 26 de agosto de 2008



26 de agosto de 2008
N° 15707 - PAULO SANT’ANA


Falência múltipla de órgãos

Um cidadão me escreveu ontem dizendo que ele e sua mãe foram assaltados. Morador de Viamão, diz serem constantes os assaltos nos bairros Tarumã e Jardim Ipê.

Os dois ladrões, um branco que dirige uma moto vermelha e um negro que empunha um revólver 38 niquelado, levaram-lhe um notebook, carteira de motorista, carteira da OAB, procurações de clientes, chaves do escritório, dinheiro, cartões de banco etc.

O prejuízo foi de R$ 4 mil. A dupla de assaltantes é proverbial nos dois bairros, age todos os dias, o leitor soube em apenas um dia de outros três assaltos praticados pelos mesmos dois elementos, num deles uma senhora foi agredida e teve o braço quebrado, no outro caso roubaram uma menina e ainda passaram a mão em seu corpo, no terceiro caso fizeram a “limpa” em quatro pessoas que estavam na parada de ônibus.

Este assaltado que fez queixa à coluna foi até o quartel central da PM em Viamão. Lá chegando, ele diz ter encontrado cinco policiais militares sem a mínima estrutura. Envergonhados, os PMs lhe disseram que contam apenas com uma viatura para atender 235 mil habitantes. E que a viatura estava atendendo a uma emergência.

Eu não acredito nisso, mas foi o que os PMs disseram. Além disso, como estão instruídos a não registrar ocorrências em que há uso de arma de fogo, foi o queixoso mandado a se dirigir à delegacia de polícia.

Lá chegando, registrou a ocorrência e o plantonista informou que o setor responsável pelas investigações conta com apenas dois policiais civis para atender a toda a demanda da delegacia.

Não há exagero no relato do leitor. O colunista também já se dirigiu a delegacia importante de Porto Alegre durante a madrugada e constatou o mais completo abandono do único plantonista, ambiente precário, computador sem funcionar, a fila imensa de queixosos tendo de esperar pacienciosamente depois de ter sido agredida de alguma forma pelos meliantes.

Em suma, eu acho que está na hora de a sociedade gaúcha e de seus governantes e deputados pararem de fingir: vamos ter de considerar que vivemos um caos de segurança pública inigualável.

Não há vagas nos presídios, a Polícia Civil nunca esteve tão abandonada em recursos materiais e humanos e a Brigada Militar pena com efetivo reduzido e incompatível com a onda de criminalidade que infesta todos os cantos do Estado.

Enquanto isso, a sociedade e os poderes constituídos fingimos que está tudo bem, que apesar de tudo vai se levando.

Não pode continuar assim. Tem de ser decretado estado de emergência na segurança pública. A governadora e a assembléia precisam urgentemente tomar medidas para admitir milhares de policiais e dotar de recursos as duas polícias.

Temos de ter consciência desse caos, e não escondê-lo debaixo do tapete.

O que governos sucessivos fizeram com a Polícia Civil tem tintas de tragédia. Praticamente extinguiram-na.

Há uma falência múltipla de órgãos na segurança pública gaúcha.

O resto é puro fingimento.

Os policiais civis e os militares parece que se combinaram: basta que sejam procurados pela população e se desculpam da mais completa ausência de atendimento dizendo a verdade: não têm condições de agir pela mais amassante falta de recursos.

E ao ouvir isso a população desiste de ser atendida. Não pode continuar assim. Algo precisa ser feito, um movimento da sociedade que afinal venha a sensibilizar energicamente os poderes.

Isto não é vida civilizada. O crime cresceu 10.000% e as polícias regrediram a 49 anos atrás. Houve um apagão de segurança pública no RS da ordem de 40 anos, exatamente quando subia dramaticamente a ação criminal.

As polícias e a Justiça Penal estão de mãos atadas, fazendo o que podem, mas estrebuchando por dentro.

Algo precisa imediatamente ser feito. Tocou o alarma geral. Não se pode mais fingir que não há caos.

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