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segunda-feira, 18 de agosto de 2008
Jaime Cimenti - JC-RS
Tradição, família, opressão e violência política
Nos últimos tempos, os leitores ocidentais têm mostrado interesse sobre a literatura e a cultura orientais, em especial com relação às de países como a Turquia, o Paquistão e o Afeganistão.
O romance Transgressões, da professora e escritora paquistanesa Uzma Aslam Khan, já publicado em vários idiomas, insere-se com perfeição nessa tendência e marca a estréia da autora no Brasil. Uzma cresceu em Karachi, estreou na ficção com o romance The story of Noble Rot e lecionou inglês e literatura inglesa nos Estados Unidos, Marrocos e Paquistão.
No momento, trabalha para uma ONG em Lahore, onde vive com o marido. A narrativa de Transgressões trata da trajetória de Daanish, um jovem paquistanês que mudou muito ao longo dos anos em que estudou jornalismo em uma universidade norte-americana.
Ao voltar para Karachi para o funeral do pai, um médico bem-sucedido, Daanish conquista o coração da estudante Nini, com quem a mãe do rapaz, muito atenta às tradições, adoraria que ele casasse. Nini é de tradicional família de Karachi.
Porém, quando ele conhece a encantadora Dia Monsour, que ajuda na administração da fazenda de seda de sua família, rapidamente nasce um romance arrebatador e proibido.
Riffat, mãe de Dia, é uma empresária inovadora e decidida.
Dia perdeu o pai, vítima de um brutal e misterioso assassinato. As desaprovações das famílias de ambos cria obstáculos para seus encontros, o que faz com que Daanish comece a relutar em ver Dia à medida que seu retorno à América se torna cada vez mais iminente.
Em síntese, a narrativa da autora transmite ao leitor a sufocante necessidade de manter as tradições e a família face à opressão diária da rotineira violência política. O romance entre Daanish e Dia somente prosperará com a quebra de costumes e regras ancestrais, demasiadamente arraigados.
Da grandiosa e sensual prosperidade da fazenda de seda às ruas superlotadas de Karachi, a escritora, por meio de abordagens precisas sobre o amor e a política, conta sobre o dia-a-dia do Paquistão contemporâneo e se revela uma observadora talentosa, como acontece com os grandes ficcionistas. Karachi vista por Uzma é complexa, rica e múltipla.
Os personagens secundários, como o jovem pescador Saalamat, que se torna motorista de um grupo que apóia a liberdade e cujos ataques causam um enorme impacto na família de Dia, trazem profundidade e muito colorido à história.
Enfim, como podem antever os leitores brasileiros, a escrita intrincada e sutil de Uzma e os temas tratados provocam muito interesse.
Tradução de Flávia Carneiro Anderson, 490 páginas, Editora Bertrand Brasil, telefone 21-2585-2070.
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