quinta-feira, 28 de agosto de 2008


Correio Braziliense - 28/8/2008

Intocáveis criminosos

Uma série de reportagens do Correio Braziliense revelou, um ano atrás, que o Entorno do Distrito Federal se tornara uma das regiões mais violentas do país. Nada menos do que 150 jovens haviam sido executados num período de seis meses.

Por trás da maioria dos crimes estava o tráfico de drogas, conforme mostraram documentos analisados pelo jornal e o depoimento de testemunhas. Durante o trabalho de investigação jornalística, o repórter Amaury Ribeiro Jr. foi baleado na Cidade Ocidental.
Sobreviveu. Mas a criminalidade também segue viva, apesar de a repercussão do caso ter provocado o deslocamento para a região de uma unidade da Força Nacional de Segurança (FNS).

Retomada ontem, a série “Tráfico, extermínio e medo” constatou avanços no combate à violência no Entorno. Concentrada em quatro dos 19 municípios que o integram, a tropa de elite federal obteve resultados em Valparaíso, Novo Gama, Luziânia e Cidade Ocidental, todas em Goiás.

Reduziu as taxas de homicídios em 20,8%; de roubos a pessoas, casas e carros, em 30,9%; de furtos a pessoas, casas e carros, em 39,1%; de outros delitos, em 22,8%. No geral, as ocorrências nessas localidades caíram 25,1%.

Antes de comemorar, é preciso ver as estatísticas de outro ângulo: resta a fazer bem mais do que foi feito até aqui. E o número de homens da FNS, em vez de crescer, passou de 130 no início das operações para menos de 70 hoje.

Anuncia-se agora que Luziânia, a 60km de Brasília, sediará a única unidade fixa da FNS, com um Batalhão Especial do Pronto Emprego (Bepe).

Em área próxima, será instalado um centro de treinamento de agentes que, promete-se, terá equipamentos de Primeiro Mundo. Os investimentos previstos, já reservados no orçamento do Programa Nacional de Segurança Pública com Cidadania (Pronasa), são de R$ 29 milhões. Espera-se que os resultados também sejam de Primeiro Mundo.

Afinal, a pouco mais de 20km dali, Valparaíso, um dos quatro focos de ação da Força, é um paraíso sim, mas da máfia dos bingos.

Bastaram 30 minutos para o Correio localizar três deles em pleno funcionamento, protegidos por aparato de segurança de fazer inveja aos estabelecimentos sérios e residências da redondeza.

Casas de jogatina, é sabido, são braços do crime organizado. Servem sobretudo para lavar dinheiro. Em abril do ano passado, a Polícia Federal desencadeou no Rio de Janeiro a Operação Hurricane (furacão, em inglês).

Prendeu bicheiros, delegados e desembargadores. Apreendeu milhões de reais, automóveis importados, jóias. Mas o desafio às autoridades não tem limite.

Seis meses depois, este jornal revelou a existência de dois bingos em plena Avenida W3, no coração da capital da República. De novo é o Correio que os encontra, desta vez poucos quilômetros adiante.

A corrupção, a sonegação, a má-fé no uso de máquinas viciadas, preparadas para arrancar dinheiro de cidadãos incautos, dobram o Estado, sobrevivem às barbas da Força Nacional de Segurança. É lastimável, para dizer o mínimo.

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