quinta-feira, 21 de agosto de 2008



21 de agosto de 2008
N° 15702 - PAULO SANT’ANA


Colunas de lágrimas

Entre todas as quase 14 mil colunas que já escrevi em Zero Hora, as que mais me realizaram e gratificaram foram aquelas em que fiz os leitores rirem ou chorarem.

Aí dá um nó de contentamento no peito do cronista. Uma vez, por exemplo, era o Dia das Mães e eu soltei no domingo uma crônica sobre a minha mãe, que morreu quando eu tinha apenas dois anos.

Foi uma sucessão de correspondências vindas de todos os cantos do Rio Grande, contando os leitores que sua reação única ao ler a minha coluna foi chorar.

Houve casos de leitores que depuseram ter inundado de lágrimas a página de jornal onde estava a minha coluna.

Até hoje, vez por outra, surgem-me e-mails que se referem àquela coluna e aos prantos por ela derramados.

Evidentemente que isso me alegra, me afirma. A gente gosta de tocar nas emoções dos outros.

Tudo isso para dizer que a coluna de ontem provocou em inúmeros leitores uma onda intensa de nostalgia, quando recordei os produtos que minha geração consumia 30, 40, 50 anos atrás.

E, ao lerem sobre a rapadura-puxa, a bala quebra-queixo, os remédios e as bebidas antigas que eram propagadas pelo rádio, a reação dos leitores que viveram os tempos antigos foi novamente de chorar.

Mandaram-me dizer ontem que irmãos, cunhados, mãe, pai, que viveram aquele tempo recordado na coluna, derramaram lágrimas de saudade.

Uma coluna despretensiosa acabou por tocar no fundo dos corações dos leitores.

Ótimo, recordar é viver.

Já estou catalogando a lembrança de outros artigos, produtos e gêneros poéticos que o gaúchos consumiam no passado para construir em breve outra coluna, em razão do sucesso da de ontem.

Aceito com prazer colaborações.

Quase dentro dessa mesma linha, amanhã à noite eu gostaria de estar em Santa Maria, no Theatro 13 de Maio, onde haverá a segunda edição do show Santa Maria Canta Lupicínio Rodrigues.

Acompanhados de músicos santa-marienses, os cantores locais Janu Uberti, Oristela Alves, Renato Mirailh, Gisele Guimarães e Maninho Pinheiro estarão apresentando os maiores sucessos de Lupicínio Rodrigues, o Poetinha da Ilhota.

Que noitada de encantamento aí na Boca do Monte, onde me casei, na Medianeira, em 1969.

Ah, se eu pudesse, iria comer cedo um galeto na brasa e depois cantar Torre de Babel, um sucesso do Lupi que duvido algum dos cinco cantores ouse interpretar. Essa só eu sei.

Mas vou estar espiritualmente com eles no palco e se alguém tiver a delicadeza de mais tarde me enviar uma gravação, com certeza me encherá de vibração. Amanhã, às 20h30min.

Se, aqui em Porto Alegre, praticamente só eu sei a letra e a melodia de Torre de Babel, o que acontece também com Eu e meu Coração, a maior criação de Lupicínio na minha opinião, como é que em Santa Maria haverá entre os grandes cantores que lá existem algum que saiba essas músicas?

Mas com certeza eles cantarão Se É Verdade, a página de maior riqueza musical do Lupi. Judiaria certamente será executada, além das célebres Nunca, Quem Há de Dizer, Maria Rosa, Castigo, Felicidade e outras.

É que a obra do Lupicínio está toda em minha cabeça. Eu sei, por exemplo, incrivelmente, o único samba de breque do Lupicínio. Uma obra profana que começa com os seguintes versos:

“Ah, por que me chamam assim de vagabundo?/ trinta e três anos viveu Jesus no mundo/ só trabalhou um mês/ querem saber o que ele fez? (breque)/ Foi carpinteiro pra ajudar seus pais/ achou pesado e não foi mais”.

Então eu tinha de estar no palco amanhã em Santa Maria ou não?

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