sábado, 23 de agosto de 2008



A estátua-estrela Elis

Ah, somos gaúchos! Como somos! Por vezes, demasiado gaúchos e, claro, divididos uma barbaridade, peleando até com a própria sombra. Chimangos, maragatos, gremistas, colorados, petistas, antipetistas, urbanos, praieiros, contra o muro da Mauá, a favor dele e por aí vai.

A memória de Elis Regina, o teatro com seu nome e sua estátua poderiam nos unir. A sábia e apimentada Elis não deve estar se preocupando com a tal estátua, que, para mim, não é lá muito bonita.

O Ulysses Guimarães, grande e saudoso brasileiro,disse que a estátua dele era o povo na rua, que só os passarinhos tratam com naturalidade as estátuas, fazendo cocô na cabeça delas. Se for para unir a galera, por mim podem guardar a estátua da Elis no cofre do Banrisul ou colocá-la em sala nobre do Museu Júlio de Castilhos.

Quando ouço a maior cantora do Brasil de todos os tempos cantando Águas de março, Como os nossos pais, Fascinação ou O bêbado e a equilibrista ergo uma estátua de luz no meu altar interior para Elis e estou pouco ligando se vou encontrar sua imagem em bronze em algum lugar da cidade. Teixeirinha tem uma estátua interessante no cemitério da Santa Casa, onde com freqüência os fãs depositam flores frescas.

Bom, bonito isso, mas a alma e a música dele são maiores e mais importantes do que a estátua de corpo inteiro do Teixeira. Bom, tudo bem, claro que a Elis merece uma estátua, ou várias, em vários pontos da cidade.

Estátuas que nem deveriam ser de bronze. Elis é ouro, ouro puro, primeirona. Quem sabe não deveriam ser construídas algumas estrelas douradas bem grandes e depois colocadas no Iapi, no Gasômetro, na Redenção, no Morro Santa Teresa e em outros lugares, para reverenciá-la.

De noite, uma iluminação variada e multicolorida daria um brilho a mais lembrando que Elis vive, que sempre foi e será A estrela. Mario Quintana disse que os caminhos seriam tristes sem a presença das estrelas.

Ah, e se eu morrer, por favor, mandem tocar umas trinta vezes Águas de março no velório, usando, óbvio, a antológica gravação do Tom e da Elis.

E desejo que sirvam champanha, vinho, cerveja, água mineral, refrigerantes e comidinhas para os convidados, que, afinal, eu sou eles, eles são eu e nós todos vivemos em muitos mundos e dimensões, iluminados sempre pelas estrelas.
Jaime Cimenti

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