segunda-feira, 25 de agosto de 2008


Ricardo Gonzalez - Jornal do Brasil - 25/8/2008

Investiu muito. E errado

O esporte brasileiro completou em Pequim seu primeiro ciclo olímpico sob as benesses estatais da Lei Piva (sancionada em 16 de julho de 2001, que lhe destina 2% da arrecadação das loterias do país) e da Lei de Incentivos Fiscais ao Esporte (de 2006).

Gastou muito com os recursos de ambos R$ 806 milhões. Para quem acha que é muito, é bem menos do que os Estados Unidos (R$ 1,05 bilhões no mesmo período), Grã-Bretanha (R$ 2,48 bilhões) e China (R$ 80 bilhões, muitos destes, é claro, em instalações e obras de infra-estrutura).

Ou, seja: o governo investiu até pouco diante do que custa ganhar uma medalha olímpica. Mas gastou errado. Observando o quadro de medalhas em Pequim, houve uma melhoria com relação à edição dos Jogos, em Atenas:

10 lá, 15 na China embora, como a tabela priorize os ouros, o Brasil tenha caído de 16º para 23º, mesmo tendo mais medalhas do que a Jamaica (13º, com 11) e Quênia (15º, com 14), o que dá uma idéia de quão subjetiva é essa tabela. Bastaria Diego Hypólito ter se mantido em pé e o time de Bernardinho vencido o último jogo para que ficássemos acima de Atenas.

Ainda assim, terminamos a competição à frente de países de economia mais sólida que a do Brasil, como Dinamarca, Suíça, Áustria, Suécia e Portugal, além de, no âmbito mais doméstico, termos ficado em terceiro lugar na América, atrás dos Estados Unidos e Canadá, e à frente da ex-potência Cuba, cuja torneira de investimento não passa hoje de um filete. Olhando para o dinheiro público gasto por aqui, é preciso saber que medalhas custam muito caro.

Vejamos: nos últimos quatro anos, dos R$ 806 milhões que o esporte recebeu, R$ 536 milhões vieram de patrocínios de estatais como Petrobras, Banco do Brasil, Eletrobras, Caixa Econômica, Infraero e Correiros.

Outros R$ 270 milhões vieram da Lei Piva. Com a conquista de 15 medalhas, cada um custou em torno de R$ 53,7 milhões. Muito? A Inglaterra, cuja capital será a sede dos próximos jogos, pagou quase o mesmo, R$ 52,7 milhões por cada medalha.

Os britânicos ganharam 32 a mais do que o Brasil, mas também investiram R$ 2,48 bilhões no último ciclo olímpico ou quase R$ 600 milhões a mais do que o estado brasileiro.

Desperdícios

A conclusão de que pode-se investir até um pouco mais, mas é preciso que se invista muito melhor começa a ser observada na quantidade de gente que o Brasil leva à Olimpíada. Se foi o 23º no quadro de medalhas, o país aparece em 12º na quantidade de atletas, com 277, em 32 modalidades.

O problema é que cada modalidade leva pelo menos um dirigente, fora os da cúpula do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), o que elevou a delegação a 469 integrantes mais do que o número de atletas ingleses (327).

A maior delegação de competidores foi a dos Estados Unidos (646), seguida pela da China (327). Outra demonstração incontestável de direcionamento errado de gasto e incompetência na gestão dele é o nosso desempenho por modalidades.

Enquanto o voleibol (de quadra e de praia) recebeu R$ 50 milhões do Banco do Brasil no ciclo olímpico e trouxe quatro medalhas (fora o excepcional centro de treinamentos em Saquarema (RJ), que forma novos craques a cada ano), o basquete torrou R$ 30 milhões da Eletrobrás e, além de não classificar o time masculino, passou vergonha na China só vencendo uma partida o judô recebeu muito menos (R$ 10,8 milhões) e trouxe três medalhas.

O melhor exemplo de política de investimento, contudo, é o dos Estados Unidos o que se comprova a cada Olimpíada.

Os gastos pesados no esporte de base, nas escolas, faz com que o Comitê Olímpico americano consiga mais medalhas no total do que a China (110 a 100) com `apenas" R$ 1 bilhão por ciclo. Não precisa mais, a máquina de formação de atletas já está azeitada.

Exemplo: a NBA, o mundo mágico do melhor basquete do mundo, busca seus jovens craques na universidade. E os jovens, por sua vez, lutam para chegar a essa universidade pois sabem o que espera pelos talentosos.

Só para reflexão: o banco Barclays, para ver seu nome associado ao New Jersey Nets, pagou à equipe R$ 400 milhões este ano. Um único banco, um único time de basquete, igual à metade de tudo o que o Brasil gastou para Pequim.

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