quarta-feira, 20 de agosto de 2008



20 de agosto de 2008
N° 15701 - DIANA CORSO


Jogos mortais

Estreado em 2004, o filme de terror, suspense, mal-estar, estranhamento e inquietação chamado no Brasil de Jogos Mortais (Saw, direção James Wan) deu origem a várias seqüên­cias.

Já são cinco, uma por ano, estreando sempre no Halloween e angariando uma legião de jovens fãs. É uma trama aberta, um esquema que pode ser repetido com várias personagens, é um jogo.

Jigsaw, o vilão-jogador, usa sua inteligência para criar armadilhas macabras, máquinas de tortura física e psicológica, que só soltarão seus prisioneiros caso eles façam o que se lhes pede num prazo exíguo.

As vítimas são gente que de alguma forma tratou a vida com leviandade e agora está sendo testada para acordar para o valor que ela tem. Para escapar será necessária uma atitude extrema, como mutilar-se ou matar alguém.

Esse justiceiro psicológico tem seus dias contados em função de um tumor e por isso não admite que se subestime a morte. Cria situações similares a um campo de batalha: onde cabe aos soldados matar ou morrer e eles precisam mostrar o sangue frio resultante do risco e do sofrimento. Jogos Mortais é uma guerra compacta e particular.

Algumas pessoas são tão ingratas por estarem vivas, mas não você... não mais! Essa é a mensagem de Jigsaw às suas vítimas. Mas, como não fomos pegos por ele, ainda, nós esquecemos continuamente disso.

Uma forma de lembrar é assistir a filmes como esse, ou de guerra, dramas sobre doentes terminais, histórias de crimes e aventuras radicais.

São tramas para lembrar da finitude, do sofrimento, contrastando com nossa vida pacata. Facilmente nos anestesiamos frente à morte, fazemos isso quando somos jovens e acreditamos que a vida é um dom infinito, enquanto fumamos, quando dirigimos bêbados.

A lei de tolerância zero ao consumo de álcool na direção não tirou de ninguém o direito de embriagar-se, somente limitou a possibilidade de transformar o carro em uma arma.

Depois disso, a cada dia, 50 pessoas deixam de morrer e evita-se que 120 fiquem com alguma seqüela, conforme o presidente da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego.

São números impressionantes, que no mínimo nos deixam pensando que o valor da vida é algo do qual nunca estamos totalmente convencidos.

Infelizmente, a morte não cessa de fazer conosco os jogos mórbidos de Jigsaw, já que a doença e a fatalidade não cessam de nos surpreender. A lei minimizou um dos fatores que torna o trânsito uma guerra, o que será que vamos inventar agora para reafirmar nossa leviandade?

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