quarta-feira, 20 de agosto de 2008



20 de agosto de 2008
N° 15701 - MARTHA MEDEIROS


Nosso Centro Histórico

Muda alguma coisa se, em vez de dizer que o Theatro São Pedro fica no Centro, dissermos que ele fica no Centro Histórico?

Talvez pareça frescura, mas isso pode colaborar, sim, não só para incrementar o turismo da Capital, mas principalmente para melhorar o conceito que o próprio porto-alegrense tem desse bairro que já foi sinônimo de elegância, depois entrou em decadência, e que agora tenta se reerguer.

É só uma questão de semântica, mas a alteração do nome não atrapalha em nada, ao contrário, chama a atenção para algo que está acontecendo: o centro começa a se tornar um lugar novamente aprazível para se visitar, para morar e para trabalhar.

Não faz muito tempo, a maioria das salas comerciais ficava no Centro. Era lá que trabalhavam médicos, dentistas, advogados. Meu primeiro emprego foi numa agência de propaganda situada na ladeira da Rua da Praia, e o endereço não era considerado maldito.

Aos poucos, foi ficando. Os profissionais liberais começaram a abrir escritórios em bairros residenciais, as lojas foram se transferindo para os shoppings e os camelôs foram tomando conta das ruas. Todos que pudessem evitar ir ao Centro, evitavam.

Ainda é assim? Não totalmente, porque temos não só o já citado Theatro São Pedro, mas o Margs, o Santander, a Casa de Cultura Mario Quintana, o Centro Cultural Erico Verissimo, a Usina do Gasômetro, o reformado Mercado Público e o recente e bem-vindo Caminho do Livro, todo sábado, na Riachuelo.

O Centro Popular de Compras (camelódromo) está quase pronto e vai acomodar mais de 800 comerciantes da região, liberando as ruas, e ainda há a promessa de revitalização do Chalé da Praça XV e o sonho de ver o Cais do Porto se transformar numa área de lazer e cultura. O centro está mudando, não há dúvida. Mas falta mudar também a nossa mentalidade.

Morar no centro nunca me passou pela cabeça, por exemplo. Hoje me pergunto: por quê? Pelas carências da região (elas ainda existem, óbvio), mas também por preconceito.

Mesmo sabendo do charme e da amplitude dos prédios antigos, da possibilidade de ter vista para o Guaíba e de a violência não ser diferente da que existe nos bairros nobres, continuamos a marginalizá-lo.

É por isso que o Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural, presidido pela engenheira Rita Chang, está trabalhando para conscientizar a todos de que não podemos continuar desprezando essa que é uma das mais belas áreas da cidade e que tem tudo para voltar a ser o mais importante cartão-postal da cidade.

Trouxe esse assunto porque estamos em plena Semana do Centro Histórico. As comemorações envolvem diversas atividades até o próximo sábado.

Hoje, por exemplo, a partir do meio-dia, haverá aula de dança no Largo Glênio Peres, depois oficina de escultura e aula de tai chi chuan na Praça da Alfândega, e happy hour no Mercado Público.

Nada mudará da noite para o dia, mas fico na torcida para que o Centro recupere seu status. Centro, não. O Centro Histórico, que é como ele oficialmente se chama agora.

Mesmo com chuva, que teima em não parar, que tenhamos todos uma excelente quarta-feira.

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