quarta-feira, 27 de agosto de 2008



27 de agosto de 2008
N° 15708 - MARTHA MEDEIROS


Em quem pensar primeiro?

Semana passada, deputados aprovaram a Lei Nacional de Adoção, que, se for sancionada pelo presidente, irá agilizar os processos de adoção no país, o que é uma boa notícia.

Ainda assim, fiquei um pouco espantada com a idade mínima para se adotar uma criança: caiu de 21 para 18 anos.

Aos 18, dificilmente alguém tem estabilidade financeira para arcar com as próprias despesas e mais as despesas de um filho, e também me parece um pouco cedo para tomar uma decisão tão definitiva e que exige tanta responsabilidade, mas, enfim, se há amor suficiente, que seja aos 18.

O que lamento mesmo é que alguns deputados tenham exigido que o dispositivo que estendia o direito aos casais homossexuais fosse retirado.

Quando um deputado faz isso, em quem ele está pensando? A única resposta que me ocorre é: nele mesmo. Em ano de eleição, não pega bem ser moderninho.

Sempre é bom fazer uma média com a nossa população tão religiosa e defensora da moral e dos bons costumes. Talvez ele, intimamente, nem seja tão preconceituoso, mas não consegue deixar de fazer o papel de bom moço.

Ou então é realmente obtuso e nem cogita em tomar uma atitude que favoreça um casal homossexual. Nada de facilitar a vida desses pervertidos, não é assim?

Um deputado – e qualquer outra pessoa – pode ter os pensamentos que quiser, é um direito de todos.

Mas se a função do político é legislar pelo bem comum, em quem mesmo ele deve pensar quando se está em debate uma lei de adoção? Me parece lógico: na criança que, por algum motivo, não poderá ser criada pelos próprios pais.

Essa criança está num abrigo para menores, aguardando ser escolhida. Até quando ela terá que esperar para que um casal hétero a leve para casa?

Se surgir a oportunidade de ser amada e criada por dois homens ou duas mulheres predispostos a formar uma família, não seria muito melhor estar com eles do que sob a guarda de assistentes sociais?

Eu sei que é um arranjo que perturba – fugir do convencional nunca é fácil. Não tenho nada contra priorizar os padrões, pelo contrário, o ideal é mesmo uma criança ser criada por um homem e uma mulher, cada um com seu papel definido, mas isso não é garantia de equilíbrio emocional: a felicidade é sempre uma loteria.

A única coisa que me parece indiscutível é que, para uma criança que não tem lar algum, será sempre um privilégio ter sido escolhida para viver com quem deseja lhe dar amor, segurança e educação.

Ser criado por homossexuais lhe causará algum constrangimento futuro? Pode ser, pode não ser. Alguém tem bola de cristal?

Só vamos saber quando tivermos menos medo de polêmicas e mais coragem para aceitar que a sociedade mudou.

Excelente quarta-feira, para todos nós, ainda com sol pelo menos.

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