quarta-feira, 27 de agosto de 2008



27 de agosto de 2008
N° 15708 - PAULO SANT’ANA


Pandeiro no céu

Próximo do meio-dia de ontem, defronte ao Batalhão Ambiental da BM, na Avenida Bento Gonçalves, aconteceu o mais espetacular assalto dos últimos anos na crônica policial gaúcha.

Dois assaltantes entraram na loja em que funciona a financeira Novocredi e anunciaram o roubo a duas mulheres que se encontravam trabalhando.

A proprietária da financeira, com 29 anos, aproveitando-se de um descuido dos dois ladrões armados, puxou de uma gaveta o revólver 38 de seu marido e atirou nos dois bandidos.

Quatro tiros, dois no rosto do primeiro assaltante, um ex-PM, dois nas costas do segundo ladrão.

O primeiro assaltante morreu na hora, o segundo fugiu baleado nas costas até um carro em que o esperavam outros dois do bando.

O bandido baleado nas costas entrou no carro em que estavam os comparsas debaixo de uma fuzilaria de soldados do batalhão que acorreram à fuga.

Ninguém do batalhão acertou nos bandidos, a mulher da financeira já tinha feito o serviço, matara um ladrão e ferira o outro nas costas.

Quatro tiros contra os assaltantes, 100% de aproveitamento desta mulher que vira uma heroína popular, nunca se viu tanta decisão, sangue-frio e precisão do tiro de uma mulher envolvida pelo perigo e pela tensão de um assalto.

Uma façanha espetacular, ninguém pode ficar alheio a este feito, principalmente porque protagonizado por uma mulher que não tinha sequer curso de tiro, a arma não era sua, prestem bem atenção neste detalhe.

O assaltante que tinha sido baleado nas costas duas vezes pela mulher entrou correndo no carro onde estavam seus dois cúmplices à espera e gritou:

– Toca!

– Pra onde? Pra casa ou para o esconderijo? – perguntou o que estava ao volante.

– Para o Pronto Socorro, estou com dois caramelos no pulmão.

– Mas o que houve? – Havia uma mulher que era osso duro de roer.

Os dois assaltantes levaram o companheiro ferido para o Pronto Socorro e o deixaram na portaria. O enfermeiro que recebeu o ferido entendeu tudo e gritou para o homem da maca:

– Este ferido não terá acompanhante.

Na Olimpíada do Assalto, modalidade em que batemos até mesmo os chineses campeões, uma mulher que tem de ficar anônima, por motivo de segurança, acerta quatro balaços na prova de tiro e sobe para o alto do pódio.

Faltava mais esta medalha de ouro para o Brasil.

Morreu ontem, João de Castro Filho, o famoso Azeitona, com 96 anos. Foi um notável pandeirista, conhecido em todas as rodas da cidade nos bares musicais de então.

Quando eu cantava, ele me acompanhava com o Caubi no violão nas noites inesquecíveis do Chão de Estrelas.

Era doce e simpático o nosso querido Azeitona. Por muitos anos trabalhou como iluminador na então TV Gaúcha, hoje RBS TV.

Estão formando parceria em algum cantinho do céu, numa serenata eterna, o Jessé Silva, o Túlio Piva, o Alcides Gonçalves, o Lupi, o Clio do Cavaquinho, o Jonson e tantos outros que não cito por receio de que ainda estejam vivos,

eles que povoam ainda deliciosamente as nossas recordações, tão intensos são ainda em nossa memória que por vezes intento, nas crises de saúde, ir-me encontrar com eles.

Azeitona será sepultado hoje às 10h no cemitério do bairro em que sempre viveu, Belém Novo. Dá-lhe pandeiro lá no céu, negrinho querido.

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