sexta-feira, 29 de agosto de 2008



29 de agosto de 2008
N° 15710 - LIBERATO VIEIRA DA CUNHA


Um estudo em azul

Por um desses acasos me retorna às mãos uma edição de Zero Hora com notícias passadas mas não menos inquietantes. Prossegue o mistério com o avião da Spanair, que causou mais de 150 mortes no aeroporto de Barajas, em Madri. Oficiais iraquianos revelam que os Estados Unidos não sairão antes de 2011 do país que invadiram.

Retirada das tropas russas não diminui a tensão na Geórgia. A violência não cessa no Paquistão mesmo após a renúncia do presidente.

Nada disso atrai mais minha atenção do que uma singela história acontecida em latitudes bem mais próximas. Uma senhora de Novo Hamburgo, chamada Doralice, descobriu ao despertar um pombo-correio em seu jardim.

Ela alcançou-o pé ante pé, conta a repórter Letícia Barbieri, fez carinho em sua cabeça e pegou-o delicadamente com as mãos. A ave não esboçou reação. Enfraquecida, ela apenas piscou os olhos.

Dona Doralice, que é empresária, mas não esqueceu o lado poético da vida, após ler a mensagem que o pombo trazia, iniciou uma detida investigação para identificar sua origem.

Não demorou a encontrá-la: o visitante vinha de Nova Petrópolis, de onde voara até ser atingido por um vento forte, que aparentemente o desorientou.

Bem cuidado e alimentado, o pombo se recuperou do susto de 60 quilômetros e, reconhecido, seu criador, o marceneiro Romeu, ficou de ir buscá-lo, levando de presente à salvadora dois filhotes da mesma e corajosa ave.

Mais não sei, mas suponho que o encontro haja sido alegre e cordial. O que me encanta nisso tudo, entretanto, é a dose de calor humano embutida na notícia.

Um jornal tem que cobrir acidentes dramáticos, erros políticos gigantescos, guerras sem motivo ou razão, convulsões internas de países longínquos, mas ao mesmo tempo precisa ter uma alma para o lirismo.

Foi o que Zero Hora revelou, dedicando meia página para a epopéia do vôo Nova Petrópolis-Novo Hamburgo, e mais meia, na contracapa, para a foto do herói e sua salvadora, um belo estudo em azul.

Mas, mais do que tudo, o que me motivou a escrever esta crônica foi uma palavrinha de três letras, que havia no anel do pombo fugitivo.

Ela existe em todos os idiomas do universo, mas está longe de criar raízes em todas as mentes. Se chama simplesmente paz.

Ótima sexta-feira, ainda que com vendaval e chuvas e um excelente fim de semana.

Nenhum comentário: