quinta-feira, 28 de agosto de 2008



28 de agosto de 2008
N° 15709 - LUIZ PILLA VARES


O alemão do blues

Fronteiras do Pensamento é uma iniciativa notável para a discussão e o debate das idéias que envolvem e influenciam o século 21. Durante o evento, iluminam a cultura contemporânea em nossa cidade as mais diversas personalidades de várias fronteiras.

E nessa instigante maratona intelectual, uma das mais marcantes individualidades que aqui estiveram é certamente o cineasta alemão Wim Wenders, o celebrado autor de Paris, Texas, entre outros sucessos da arte cinematográfica.

A presença de Wenders entre nós teve uma enorme repercussão nacional e, sem dúvida alguma, ele é merecedor de tudo o que sobre ele foi escrito, em geral de forma elogiosa a respeito de sua trajetória.

Aqui, Wim Wenders fez a defesa de um cinema “com forte sentimento de pertencimento local”, na contracorrente de um cinema cada vez menos reflexivo e cada vez mais uniforme, com ênfase nos efeitos especiais e na fugacidade, na banalidade e no apelo vulgar ao erotismo e à violência.

E explicou o fio condutor de seus filmes belos e cerebrais: “A Alemanha (logo após a II Guerra) era um país devastado e sem esperanças.

Os alemães acumulavam vergonha sobre os ombros. Desde quando posso lembrar, queria deixar o país. Assim, tornei-me um viajante. É minha vocação e profissão”. E só depois de viajar bastante reencontrou-se com a Alemanha.

E nas centenas de linhas que sobre esse alemão errante se escreveu, chamou-me a atenção o fato de que ninguém, mas ninguém mesmo, lembrou-se de citar uma de suas paixões mais enraizadas e duradouras: o amor pelo blues, esta música de origem afro e que se tornou uma das mais autênticas expressões da arte norte-americana.

Pois Wim Wenders é o autor de um capítulo da notável série apresentada por Martin Scorsese, The Blues (à venda em uma bem elaborada caixa, edição da Focus Music).

O filme de Wenders chama-se The Soul Man e nele o autor, de forma terna e comovente, revela o seu amor pelo blues e, particularmente, por seus três “ídolos”, como ele os denomina:

L.B.Lenoir, Skip James e Blind Willie Johnson. É Wenders quem afirma: “Essas músicas significam o mundo para mim. Eu senti que existia mais verdade nelas do que em qualquer livro que eu li sobre a América, ou em qualquer filme que eu tenha visto”.

Concordo com ele: o blues é os EUA profundo, muito mais do que esta outra face da arte autenticamente norte-americana, o jazz, igualmente bela forma de música, mas muito mais universal e urbana.

Sim, o alemão Wenders ama o blues, o som mais norte-americano de todos.

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