domingo, 17 de agosto de 2008


ELIANE CANTANHÊDE

Do ditador ao "bispo dos pobres"

BRASÍLIA - Lula, Hugo Chávez, Evo Morales, Rafael Correa, Michelle Bachelet, Tabaré Vázquez e mesmo a ainda indefinida Cristina Kirchner, juntos, são a imagem e a certeza de que algo está mudando, aliás mudado, na América do Sul.

E é justo incluir nessa onda de renovação Alvaro Uribe e Alan Garcia, apesar de desgarrados "direitistas" e refratários a reuniões, cúpulas e até à posse do mais novo integrante da turma, o ex-bispo católico Fernando Lugo, que jamais vestiu um terno e usa sandálias, para "seguir o caminho da humildade", seja lá o que isso signifique...

Goste-se mais de um, menos de outro, a foto dessa gente é infinitamente melhor do que as do baú sul-americano: Alfredo Stroessner, Augusto Pinochet, Costa e Silva. E mesmo outras mais recentes:

Carlos Menem, Alberto Fujimori. Um migrante nordestino, um índio que é a cara do seu povo, a filha de um político morto numa ditadura, agora esse "bispo dos pobres" que sonha transformar o Paraguai num país mais desenvolvido, menos corrupto e mais justo. Muito se evoluiu dos Stroessner até agora, e o Brasil é um dos melhores exemplos, passando por processos, em vez de viver rupturas.

Certos vícios, porém, não mudaram tanto, basta ver as "surpresas" do PT no poder, comprovando a regra de que a política corrompe e deforma e de que, invariavelmente, as boas intenções sucumbem à prática política, ao "sistema".

Lugo chegou à Presidência do Paraguai como, de um jeito ou de outro, toda a nova turma da América do Sul: embalado por uma enorme esperança.

Suas decisões e ações devem se equilibrar entre a responsabilidade fiscal e a urgência de choques sociais, sem se render ao populismo. E ele precisa resistir ao sistema, para reformá-lo. "Não é tarefa fácil", disse na posse. Fácil não é, mas é bem possível.

Enfim, férias! Até 23 de setembro, junto com a primavera. elianec@uol.com.br

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