Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
segunda-feira, 25 de agosto de 2008
25 de agosto de 2008
N° 15706 - PAULO SANT’ANA
Camelinho inesquecível!
Foi um grande tipo da cidade de Porto Alegre o Joel Granato Veiga, o Camelinho, recentemente falecido.
Durante décadas, ele agitou a Rua da Praia com a sua verve, o seu apurado senso de humor. E principalmente com seu entusiasmo pelo futebol, algo que nunca se viu em outra pessoa do nosso meio.
Ele foi torcedor do Grêmio Bagé, na infância e juventude, onde já se destacava como grande agitador esportivo.
Vindo para Porto Alegre, Camelinho tornou-se torcedor do Renner, que foi campeão em 1954 com a ajuda extremada dele, que liderava a torcida e dava combate retórico a gremistas e colorados no Largo dos Medeiros.
Quando o Renner encerrou suas atividades, ainda nos anos 50, Camelinho foi alvo de um trauma: não tinha para quem torcer. Sua vida perdia o sentido.
Então, foi estimulado a escolher o Grêmio como sua nova paixão, tornando-se logo em seguida no maior torcedor do tricolor gaúcho, conhecido em toda a cidade e no Estado, um símbolo das três cores.
Durante décadas, com freqüência a imprensa se ocupava de Camelinho, citando suas frases, noticiando sua presença em todos os movimentos do Grêmio, desde as chegadas de craques no aeroporto Salgado Filho e de delegações gremistas vitoriosas no país e no Exterior, até os treinos no Olímpico, como em todas as manifestações pela cidade concernentes ao clube.
Era alto e magro, o bageense Camelinho. Trabalhava no máximo dois meses por ano, o Camelinho, que era estofador. O resto do tempo ele gastava para se ocupar em discussões sobre o futebol.
Inquieto, por raras vezes agressivo, assisti em inúmeras ocasiões a ele se meter em brigas de sopapos e até duas vezes vi ele puxar de uma faca da cintura e partir para cima de seus competidores nas contendas verbais que estabelecia com insistência na Rua da Praia,
onde era sempre o centro de uma grande roda que se formava, todos atraídos por seu discurso veemente e bem-humorado, as gargalhadas explodiam na volta, ele tinha um carisma de artista popular, muita gente ia todos os dias ouvi-lo com unção no Centro.
Só tinha dois assuntos o Camelinho: o futebol e a política. Era getulista e brizolista. Petebista, Alceu Collares foi seu grande amigo e era freqüentemente participante das rodas de conversa em que estrelava Camelinho.
Outro amigo de Camelinho, também bageense como Collares, foi o advogado Matias Nagelstein. Os três recordavam com riqueza de detalhes todo o folclore futebolístico de Bagé, as histórias deliciosas que cercavam a rivalidade entre o Guarani e o Grêmio Bagé, Ba-Guás memoráveis que se travaram desde o início do século passado.
Ainda que modestamente, considero-me uma cria intelectual e gestual do Camelinho nas batalhas dos debates esportivos de rua, estilo que depois transportei para o rádio e para a televisão.
Se tive uma inspiração para me tornar conhecido como jornalista esportivo, ferrenho defensor do meu clube do coração, estilo que mais tarde abandonei para me tornar um jornalista de generalidades, busquei-a no Camelinho.
Eu tinha verdadeira idolatria por ele, pelas suas sacadas, pelo seu espírito aguçadíssimo, pelo bombástico das suas tiradas e pelo brilho do seu improviso.
Tanto que um dia, cegado pela rutilância do discurso de esquinas dele, resolvi trazê-lo para o Sala de Redação.
Não deu certo. O Camelinho era homem pouco instruído, sua linguagem não se adaptou ao rádio, ele não sabia usar no microfone o faiscante linguajar que usava nas ruas.
Era um artista de rua, quase de cordel, sua voz ribombava nas rodas que se formavam em torno dele, atraídas pelo seu brilhantismo.
Foi um tipo inesquecível o Joel Granato Veiga, o Camelinho. Dói-me muito que ele tenha morrido.
Independentemente do clube por que torcia, era admirado também por colorados, que viam nele um estro brilhante, enriquecedor do futebol, como sabe-o bem o Ibsen Pinheiro, também admirador do Camelinho.
Por isto é que resolvi escrever esta crônica: para exaltar e celebrar o meu amigo Camelinho, a quem acompanhei durante tantos anos pelas andanças de centenas de minicomícios futebolísticos pela cidade.
Que talento, Camelo! Invejável. E que saudade, Camelinho. Como o futebol precisou de ti!
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