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quarta-feira, 27 de agosto de 2008
27 de agosto de 2008
N° 15708 - SERGIO FARACO
Os velhos do Brasil
No dia 25 de julho completei 68 anos. Minha mulher queria festejar a data no restaurante italiano que minha filha mantém na Tristeza, o Bistrô do Pátio, e imaginou uma lista de 60 convidados, a lotação da casa.
E tenho eu tantos amigos? Embora tocado pelo gesto amoroso, com algum esforço pude convencê-la a desistir: se ambicionava reunir cinco dúzias de gajos para me homenagear, teria de convocar também os inimigos.
Nada se fez, mas foi um dia propício à reflexão.
Em dois anos, se vivo estiver, terei 70. Em doze, 80. E fiquei a cismar se compensa viver tanto, visto que a cada aniversário recebo calorosos cumprimentos por ter menor resistência física, ouvir e enxergar menos, isso sem contar que já olho de viés para as farmácias, a me perguntar quando chegará a minha vez de recorrer ao Viagra.
E não me venham com o faz-de-conta de que a velhice traz sabedoria, experiência e prazeres outros. Bem, traz alguns e os tenho, mas, em nosso país, só para quem pode, não é? E a sabedoria e a experiência, em regra, não servem para nada – só tem serventia o que é operacional.
É um lado da questão: o status do idoso em sociedades como esta, subordinadas ao império do novo. Ignoro como eles subsistem em outros países, mas aqui são compelidos a uma espécie de limbo, descartados de qualquer papel profícuo.
A rigor, a sociedade lhes despreza a teoria e a prática, e não lhes dá a mínima chance de adaptação à modernidade, tripudiando sobre as quimeras da Lei 10.741, que mais parece um projeto arquitetônico do país swiftiano de Laputa: só funciona no desenho.
E eles vivem, os velhos brasileiros, como os struldbrugs de Luggnagg, estrangeiros em sua própria terra.
E o outro lado: se é fato que a sociedade necessita adequar-se às contínuas mudanças decorrentes de seu desenvolvimento – o novo de hoje é o obsoleto de amanhã –, e que talvez por isso não possa prescindir de mentes jovens e adredemente preparadas para o crucial enfrentamento desse moto-perpétuo, não é menos factível que ela só se alçou a tal patamar pela faina dos que envelheceram.
No Brasil, a retribuição por vidas consagradas ao trabalho, na maioria dos casos, não enseja os ditos prazeres outros. Muito ao contrário, é um escárnio.
Em lugar do benefício digno na conta bancária, que é o que deveras conta, a esmola mão-de-vaca: meia-entrada no cinema e no circo, ônibus de graça, um guichê nos bancos e o banheirinho no shopping.
Só falta o legislador mandar colocar sobre o balcão da pia um pacote de fraldas.
Credo, que nação é esta? Vai ser ingrata assim nos cus do judas!
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