sábado, 23 de agosto de 2008



23 de agosto de 2008
N° 15704 - MOACYR SCLIAR


Saúde e educação: o binômio inseparável

Recentemente participei, na Fundação Oswaldo Cruz (Rio), da cerimônia de entrega ao presidente Lula e ao ministro da Saúde, José Gomes Temporão, do relatório da Comissão sobre Determinantes Sociais da Saúde, constituída por recomendação da Organização Mundial da Saúde, da qual fiz parte.

Todo mundo sabe que as condições sociais de um país influem nos níveis de saúde dos seus cidadãos; mas a tarefa da comissão era avaliar em que medida isto acontece e o que se pode fazer para corrigir os problemas encontrados.

O estudo mostrou, à exaustão, que, além obviamente da renda, o nível educacional é absolutamente fundamental em termos de saúde. Querem exemplos?

- A proporção de mulheres de 25 anos ou mais que fizeram pelo menos uma mamografia é de 68,1% nas mulheres com mais de 15 anos de estudo, mas cai para 24,3% naquelas sem instrução ou com menos de um ano de escolaridade. No caso de exame para detecção do câncer de colo uterino, as proporções são de 93,1% e 55,8%, respectivamente;

- Entre mulheres com 12 anos ou mais de estudo, a proporção das grávidas que fazem pré-natal é de 97,3%; naquelas sem estudo cai para 85,6%;

- Mulheres com escolaridade de quatro anos ou menos fumam duas vezes mais do que aquelas com escolaridade maior que nove anos;

- A mortalidade de crianças menores de cinco anos é três vezes maior entre filhos de mães com menos de quatro anos de instrução quando comparados com filhos de mulheres que têm mais de oito anos de instrução.

Alguém poderia dizer que, na verdade, se trata de uma questão de renda, já que as pessoas com menor nível educacional são também mais pobres.

Em parte este raciocínio está correto, mas só em parte. Estudos têm mostrado repetidamente que, quando se comparam pessoas na mesma faixa de renda, aquelas com mais anos de escolaridade têm níveis de saúde melhor.

E não é difícil entender a razão. Saúde, hoje em dia, depende muito do estilo de vida: o modo como a pessoa se alimenta, os hábitos saudáveis ou nocivos que tem.

E estilo de vida, por sua vez, depende de duas coisas: informação e motivação. Motivação, que envolve fatores emocionais, é coisa complicada. Mas informação, que aliás é pré-condição para a motivação, pode chegar a todas as pessoas, pelos meios de comunicação, pela internet, pela educação escolar.

É o que se chama de promoção de saúde e, pensando nisto, o Ministério da Saúde criará um órgão que se dedicará exclusivamente a esta área.

Em termos de saúde, o Brasil melhorou muito: diminuiu a mortalidade infantil, cresceu a expectativa de vida. Mas pode melhorar muito mais, desde que se diminua a histórica desigualdade de nosso país.

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