sábado, 30 de agosto de 2008



30 de agosto de 2008
N° 15711 - MOACYR SCLIAR


Depois da queda

Brasileiro admira o inverno nórdico: a neve caindo, os trenós com os guizos tilintando, as lareiras acesas. Muito bonito, mas a gente esquece que não é só isso.

É também a estrada bloqueada, os canos congelados e, ah, sim, os riscos inesperados, um dos quais descobri há uns três anos, quando, em pleno inverno, caminhava por uma rua em Nova York. De repente pisei numa poça d’água congelada, escorreguei e, quando vi, estava caindo. A sensação foi de surpresa e desamparo.

Tendo perdido o equilíbrio não havia nada mais a fazer, e eu me estatelei no chão, de costas. Bati com a cabeça, fiquei um pouco zonzo, e logo em seguida vi, lá debaixo, fisionomias ansiosas, de pessoas que queriam me ajudar. Com o auxílio delas, levantei e segui meu caminho. Mas confesso que o incidente me abalou.

A queda é uma experiência transcendente. Não é de admirar que sirva como metáfora para várias situações. O pecado de Adão e Eva é descrito como queda; queda é também o termo que se usa para alguém que perdeu o poder.

O grande dramaturgo americano Arthur Miller escreveu, em 1964, uma peça teatral de enorme repercussão, chamada After the Fall (Depois da Queda). Miller fora casado com a famosa atriz Marilyn Monroe, cuja carreira entrou em declínio por causa de drogas e da instabilidade emocional; ela terminou morrendo de overdose. A peça foi assim interpretada como uma alusão a essa debacle, e ficou muito famosa, inclusive pelo título: After the Fall é até o nome de um conjunto de rock.

Na vida da pessoa, e sobretudo da pessoa idosa, a queda também é importante – e alarmante. Quando se diz que uma pessoa, já nos seus 80 ou 90 anos, teve uma queda, todo mundo fica consternado. A idéia é de que a pessoa já não tem mais controle sobre seu próprio equilíbrio. Uma nova fase começa, cheia de alarme e preocupação.

Mas não precisa ser assim. Quedas podem ser evitadas com:

- exercício físico regular;

- identificação de lugares perigosos na casa;

- cuidado com medicamentos e substâncias que prejudicam o equilíbrio, como álcool, tranqüilizantes, antiarrítmicos;

- atenção a problemas de saúde que podem resultar em quedas: déficit de visão, problemas neurológicos e musculares, problemas cardíacos.

A queda faz pensar sobre a vida. Mas a gente também pode pensar sobre a vida confortavelmente sentado, sem receio de um tombo. O que, obviamente, é muito melhor.

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