terça-feira, 5 de agosto de 2008



Aldeia global

Lá pelo final dos anos sessenta, o filósofo canadense Marshall MacLuhan criou a expressão "aldeia global", ensinando que as várias partes do mundo, após os progressos nas áreas tecnológica e de comunicação, estariam interligadas.

Realmente, depois do telefone, da tevê, do fax, do celular e, principalmente, da internet, sabemos tudo a toda hora, em todos os lugares.

Estamos em todas. Penso nisso depois de ter feito, nos últimos tempos, muitas viagens pelo Interior do Rio Grande do Sul. Andei pelo Litoral Norte, pela Serra, pela Região Noroeste e estive na Campanha e na Região Sul. Tive a oportunidade de ver as muitas caras atuais do nosso Estado.

Rio Grande do Sul pobre, rico, moreno, loiro, rural e urbano, calmo ou agitado, com seus gaúchos e suas veias onde corre sangue índio, negro, europeu e oriental. Por causa dessa riqueza étnica somos assim, fortes, bonitos, inteligentes e outras coisas que a modéstia nos impede de dizer.

Caminhando pelo centro das cidades e pelas ruas, por vezes pensei que anda tudo meio igual. Mesmas lojas, lotéricas, mesmos supermercados e bufês a quilo, mesmas etiquetas e roupas, mesmo monte de farmácias e lojas de telefonia e os mesmíssimos bancos.

Claro que depois do olhar entediado de quem acha que já viu tudo, vem o olhar de criança, de turista, buscando novas paisagens, sons, sabores, caras e almas. De noite, em uma calçada, por trás da cortina de aço, ouvi um grupo cantando músicas nativistas. Ao som de uma gaita, claro.

Uma gaita regional. Ou seria universal? Em uma padaria e confeitaria onde dei uma parada para comer um calórico mil-folhas e traçar um refri light, fiquei observando um grupo de adolescentes. Uma morena, outra loirinha, um menino negro, outro pardo e outro branco, bem Rio Grande do Sul.

Estavam felizes, sorridentes, brincalhões e algo desengonçados, cheios de braços e pernas, como costumam ser os adolescentes. As meninas foram até o fundo da loja, trouxeram uma garrafa de dois litros de Fanta Uva e o balconista da casa veio depois com cinco copos e gelo.

Os cinco se serviram, brindaram. Fiquei pensando na alegria deles com 400 ml de refri para cada, ao custo total de dois ou três reais.

Aquilo me deixou feliz. Fiquei pensando que mesmo numa "aldeia global", aparentemente sem grandes novidades, onde tudo se sabe, sempre haverá um momento em que o cotidiano, mesmo no fim da jornada, nos presenteia algo que não conhecíamos nem sabíamos.

E nem precisa ser algo tipo o atentado das tôrres gêmeas ou o fim da corrupção no Brasil.

Jaime Cimenti - Ótima terça-feira - Aproveite o dia.

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