terça-feira, 26 de agosto de 2008



SARKOZY, O MINÚSCULO

Dominique Wolton, sociólogo do CNRS, o centro nacional de pesquisa científica da França, esteve em Porto Alegre. Deu um curso para os mestrandos e doutorandos em Comunicação da PUCRS.

Autor de alguns livros altamente provocativos, como 'O Elogio do Grande Público' e 'Internet, e Depois?', ele sustenta que a televisão aberta contribui mais para a democracia e para os vínculos sociais que a televisão a cabo.

Nessa mesma linha, defende que só há liberdade de comunicação quando existe equilíbrio num país entre televisão pública e privada. Dominique Wolton não é marxista. Ri abertamente de quem acredita no poder da Internet, ou de qualquer outra tecnologia, de tornar o mundo mais igualitário.

A tecnologia, explica, pode acelerar a circulação de informações, mas o que interessa mesmo é a comunicação. A informação é a mensagem (os dados). A comunicação é a relação. Ou seja, um processo antropolítico complexo.

Li para ele a reportagem da revista Veja que acusa os professores do ensino fundamental e médio de 'esquerdizar' as crianças com essa história de formar cidadãos. A sua reação foi simples e clara: essa revista 'direitiza' os leitores.

Pode-se muito bem ensinar, ao mesmo tempo, matemática e pensamento crítico. Conhecedor das críticas ao apego dos franceses ao Estado, recorrentes na mídia conservadora, ele tem resposta na ponta da língua para essa objeção: é uma ideologia liberal de privatização generalizada disfarçada de neutralidade.

Uma conversa fiada interesseira para diminuir o tamanho do Estado e dar mais espaço à especulação e à transformação, por exemplo, das questões relativas à saúde em comércio. O Estado não pode ser máximo nem mínimo. Deve ser o ponto de equilíbrio.

Espanta-o o interesse da mídia internacional pelo presidente francês, Nicholas Sarkozy, a quem se refere como o minúsculo, por não ter um projeto político renovador e por praticar uma política dura em relação aos estrangeiros em busca de trabalho.

Wolton garante que as três grandes questões do futuro serão a preservação do meio ambiente, a comunicação e a imigração. Ele sonha em fazer um livro de entrevista com o presidente Luiz Inácio.

Acha que o mundo ainda não deu a merecida atenção aos feitos de um operário que se tornou chefe de uma grande nação e, contrariando as previsões das elites enciumadas e profundamente ideológicas, fez melhor, ou não fez pior, que os seus antecessores.

Na França, o Bolsa-Família aparece como uma medida justa, humanitária e somente criticada por opositores que colocam a ideologia acima dos interesses reais das pessoas.

Conhecedor do Brasil, Wolton já foi convidado algumas vezes a dar consultoria para a Rede Globo. Ele não entende por que os intelectuais brasileiros, se estão insatisfeitos, não enviam uma carta aberta à família Marinho exigindo mais compromissos da emissora com a diversidade cultural.

Estão achando que se trata de um francês maluco? Wolton vende milhares de livros, recebe convites do mundo inteiro, tem uma agenda lotada, acredita na capacidade da mudança pela negociação, defende a democracia acima de tudo e crê na educação como método decisivo de transformação social.

Nada tem de um dinossauro esquerdista. Só não cai facilmente no papo-furado das novas direitas travestidas de neutras. Ah, tenho convicção de que ele toma banha todos os dias!

juremir@correiodopovo.com.br

Uma excelente terça-feira, pelo menos com sol, com certeza.

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