sábado, 30 de agosto de 2008



30 de agosto de 2008
N° 15711 - NILSON SOUZA


Antes de partir

Ganhou destaque esta semana a notícia da morte do publicitário americano que ajudou a escrever o livro Cem Coisas para Fazer Antes de Morrer.

Ele sofreu uma queda em casa, bateu com a cabeça e fechou a última página da sua história aos 47 anos – muito cedo para os atuais parâmetros de longevidade.

O irônico acidente de percurso, porém, não invalida uma de suas advertências: “A vida é uma jornada muito curta”, escreveu no livro. “Como você pode ter certeza de que pode preenchê-la com o máximo de diversão e os lugares mais legais do mundo antes de fazer as malas pela última vez?”

Ninguém faz as malas para esta viagem. Tem gente que se previne, é verdade. Conheci uma senhora do interior do Estado que não apenas construiu caprichosamente sua derradeira morada no cemitério da cidadezinha onde morava, como também ia todos os sábados colocar flores no próprio túmulo.

“Quando eu morrer, ninguém vai se lembrar de fazer isso para mim”, explicava. Mas essa providência não é tão difícil de tomar, nem é tão rara assim. Muitas pessoas fazem isso, até para não dar trabalho aos que ficam.

Difícil é fazer uma lista de coisas imperdíveis nesta primeira (ou única) passagem pelo planeta – e cumpri-la. Só em filme, como no maravilhoso Antes de Partir, em que Jack Nicholson e Morgan Freeman interpretam dois pacientes terminais que resolvem sair pelo mundo fazendo tudo que é tipo de aventura.

E provam que qualquer coisa que a gente deseje do fundo da alma pode ser obtida, inclusive beijar a mulher mais linda do mundo, que era uma das metas do personagem de Nicholson.

Não sou tão organizado assim. Mesmo que conhecesse a data exata do encontro indesejado, dificilmente seria capaz de elaborar um planejamento minucioso das coisas que ainda pretendo fazer.

Mas seria capaz de fechar contrato agora mesmo com aquela senhora que nunca falha, se ela aceitasse esta minha modesta proposta:

apenas o tempo suficiente para ler todos os livros que tenho empilhados ao lado de minha mesa de cabeceira, no meu gabinete de trabalho e na minha biblioteca.

Mil e uma noites seriam suficientes. Aquelas de Sherazade, evidentemente, que duram até hoje e permanecerão pela eternidade.

Um ótimo sábado e um excelente fim de semana para todos nós.

Nenhum comentário: