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sábado, 16 de agosto de 2008
17 de agosto de 2008
N° 15698 - PAULO SANT’ANA
A dúvida
Se há um tipo de pessoa por quem sinto atração, é o que tem dúvidas.
Se topo com uma pessoa com dúvidas, inquieta, tento me aproximar dela, com a certeza de que terei grande aproveitamento.
Não há pessoa mais viva, mais cheia de energia, com mais possibilidade de criação do que a que tem dúvidas.
Não há outra forma de pensar que não seja pela dúvida. Eu chego a pensar que ninguém acredita mais em Deus do que quem duvida que ele exista.
Quem duvida que Deus existe está com isso admitindo a existência de Deus.
Não se confunda a pessoa que tem dúvidas com a que não tem dúvida de nada. Não pode haver maior chato que o que não duvida de nada.
Talvez chato maior que o que não duvida de nada somente aquele que duvida de tudo.
Entre todas as pessoas que encontrei com maior conhecimento, nenhuma havia que não tivesse dúvidas.
E ia progredindo em sua profissão ou no modo de encarar a vida superando as suas dúvidas.
Eu penso até que só se pode chegar à certeza se antes se topar com a dúvida. O ser tomado pela dúvida é iluminado, isso o impele a pensar, a analisar, a estudar, a não cessar, até que, mesmo que isso consuma toda a sua existência, venha a esclarecer essa dúvida.
O próprio amor se alimenta sempre da dúvida. Quando alguém tiver certeza de que é amado por outrem, acaba-se nesse instante o amor.
Porque extingue-se a meta, não vale mais a pena regar-se a planta do amor, não vale mais encher-se assim de cuidados com a pessoa amada, agradando-a, perscrutando-a, medindo-a, integrando-se a ela.
Porque o ciúme é parte integrante do amor? Por causa da dúvida, a essência do amor reside na dúvida e a prova do amor é o ciúme.
Diz-se que em qualquer tipo de empreitada é necessário que se corra risco. O risco compreende também a dúvida: será que vai dar certo?
O que é afinal o risco, senão uma grande dúvida: valerá a pena? Como terminará? Quem me pôs aqui na Terra? E com que finalidade?
Haverá uma vida depois desta? Será que serei recompensado por essa minha retidão?
O que será da vida dos meus filhos, dos meus netos, da minha família, da minha pátria? Qual será a sorte da humanidade daqui a 200 anos?
Haverá petróleo para mover o mundo daqui a um século? E oxigênio?
O homem é aturdido por suas dúvidas durante todo o transcurso de sua vida. E tanto melhor ele se sairá na existência quanto melhor ele conseguir solucionar as suas dúvidas.
Como tanto melhor ele se sairá quanto mais topar ali adiante com mais dúvidas.
É quase impossível a uma pessoa dormir à noite sem ter dúvida. O impulso da vida é a dúvida.
Uma pessoa que tiver só certezas, para esta perdeu-se o sentido de viver.
Porque a esperança, fonte motriz da vida, é baseada na dúvida.
Só espera quem tem dúvida.
E quem não tem dúvida é um desesperado.
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