Entrelacos

Coleções masculinas voltam a se destacar

Desfile de João Pimenta, na Casa de Criadores, lidera onda de boas idéias para o guarda-roupa masculino

VIVIAN WHITEMAN
DA REPORTAGEM LOCAL

Um fenômeno inusitado vem acontecendo na Casa de Criadores desde a temporada passada: as coleções masculinas, que raramente se destacam nas semanas de moda brasileiras, têm superado as femininas. E na 23ª edição, que terminou na última sexta-feira no shopping Frei Caneca, os meninos saíram ganhando de novo.

O estilista João Pimenta capitaneou a onda de boas idéias para o guarda-roupa masculino e apresentou a coleção mais interessante e bem-realizada.

Inspirado em uniformes de diversos esportes, o designer levou seu trabalho de alfaiataria em moletom a um nível muito profissional e foi feliz nos jogos de proporções, da megacamisa pólo com shorts de futebol às calças justas com jaquetas e blazers amplos.

Apesar do styling ousado, João limpou a passarela dos excessos, o que ajudou a clarear a imagem de moda segura que construiu para a grife.

Se observadas em combinações menos complicadas ou separadamente, as peças se mostram versáteis e usáveis até mesmo pelos menos novidadeiros. O casting continua misturando modelos e personagens do universo do estilista, charme extra às apresentações.

Além de João, grifes como ADD, Ash e a estreante Der Metropol também entraram para os destaques desta edição na ala masculina. No caso das duas últimas, que também fazem moda feminina, as peças criadas para as mulheres não alcançaram o mesmo patamar.

A Der Metropol, por exemplo, acertou em cheio ao adaptar a onda folk a uma proposta streetwear moderninha para os homens, mas transformou as garotas em bonecas circenses, escondidas em silhuetas "barril".

Já a Ash fez bonito com seus meninos "químicos", em estampas ultracoloridas com referências à pesca predatória e à poluição de mares e oceanos, mas precisa definir um caminho mais claro e menos enfeitado para as peças femininas.

Mocinhas e mulherões tiveram sua vez nos competentes desfiles de Gustavo Silvestre, Walério Araújo e Rober Dognani. Gustavo agradou com uma coleção de jeitão étnico, sofisticada e leve.

Walério e Rober continuam investindo em seus vestidos de festa abusados. Os longos do primeiro, que contou com a cantora Cláudia Leitte na passarela, têm partes destacáveis e viraram curtos. Já os vestidos de Rober, curtíssimos, ganharam pontos pelo acabamento.

Foi uma das melhores edições da Casa, com coleções mais profissionais e bem-acabadas. O evento passou a exigir que os participantes tenham peças em ponto de venda representativo, o que serve como um aval do mercado. Mas falta um filtro de qualidade, especialmente para os novos.