Aqui voces encontrarão muitas figuras construídas em Fireworks, Flash MX, Swift 3D e outros aplicativos. Encontrarão, também, muitas crônicas de jornais diários, como as do Veríssimo, Martha Medeiros, Paulo Coelho, e de revistas semanais, como as da Veja, Isto É e Época. Espero que ele seja útil a você de alguma maneira, pois esta é uma das razões fundamentais dele existir.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
11 de junho de 2008
N° 15629 - Martha Medeiros
Saudade dos verdes anos
Eu havia acabado de assistir a uma peça, no Rio, quando na saída uma mulher, que também estava na platéia, veio me cumprimentar. Ela apertou minha mão, disse palavras gentis, falou que morava no Rio, mas que era gaúcha como eu e que acreditava termos amigos em comum.
Eu olhava para o seu rosto e, apesar de ele me parecer ligeiramente familiar, não o identificava. Fiz o que se deve fazer nessas horas, sem culpa ou vergonha: "Como você se chama?".
Ela me respondeu, e seu nome exótico me fez voltar muitos anos na minha vida, quando eu tinha uns 16 ou 17 anos e costumava vê-la nos palcos de Porto Alegre e em filmes super-8. Abraçamo-nos com sincero afeto e o papo continuou um pouco mais, até que nos despedimos na porta do teatro para sabe-se lá quando outra vez, provavelmente nunca.
Agora o curioso disso tudo: agimos como duas amigas que não se viam há muito tempo, mas a verdade é que eu jamais havia falado com ela na vida, apenas sabia quem era porque há uns 30 anos atrás acompanhava seu trabalho de atriz, e ela só passou a saber da minha existência há pouco tempo, depois que virei cronista.
Fiquei pensando na força desse estrangeirismo: estávamos numa cidade que não era a nossa (ela exilada por vontade própria, eu uma visitante ocasional) e isso acarretou uma intimidade mágica, uma espécie de "eu sei o que você fez no verão passado".
O fato de sermos conterrâneas e de termos alguns amigos em comum bastou para selarmos uma aliança instantânea.
Pois recebi há poucos dias um e-mail dela - Xala Felippi - em que conta, com palavras mais bonitas do que as minhas, essa sensação de encontrar alguém que não conhecemos, mas que parece ter sido uma colega da escola, uma amiga da adolescência, pelo simples fato de essa pessoa ter testemunhado um mesmo momento de vida, e com isso, despertado saudade dos verdes anos.
Palavras dela: "Você folheou as páginas do meu livro de memórias, recuperou as imagens desbotadas de minhas lembranças, me levou do profano ao sagrado de minha auto-estima e deixou minha existência polida e valiosa como um marfim".
E eu é que sou a escritora. O mundo é injusto.
Outra coisa bacana é que ela começou o e-mail dizendo "Martha querida" e em seguida explicou que fazia pouco tempo que havia aprendido a usar "querida" genuinamente, já que essa palavra sempre lhe soou corrompida de tanto ouvi-la de vendedoras de lojas, secretárias de consultório médico, flanelinhas de rua e demais pessoas que dizem "querida" apenas para chantagear nossa carência e fazerem-se íntimas sem nenhuma intimidade.
Pessoas me perguntam: de onde saem idéias para crônicas? Às vezes saem de um encontro de 10 minutos com uma pessoa com quem você não tem nenhuma ligação, mas que ajuda a reforçar a ligação que você tem consigo mesma. Daí a poesia da vida.
Aproveite o Dia Internacional do Sofá: namore, ainda mais que amanhã é o "Dia dos Namorados". Uma excelente quarta-feira para todos nós.
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